quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Luuanda, de José Luandino Vieira






José Luandino Vieira é pseudônimo de José Vieira Mateus da Graça, nascido em Portugal, criado em Angola. Este Luuanda foi lançado no Brasil em 2006, e só estou lendo agora, guardado que foi para eu ler depois da aposentadoria... Pois chegou seu dia, que foi para mim um grande dia!


Os colegas luso-africanos estão fazendo belo trabalho com a linguagem: Mia Couto, o moçambicano, a recria; José Luandino a registra, a linguagem dos musseques onde habita a pobreza em Luanda, capital de Angola. E com isso, ao passá-la para a modalidade escrita, também a recria e lhe empresta grandeza. É o tipo de trabalho que admiro, como o que Tito Carvalho fez em Bulha d'arroio, ou João Antõnio em seus contos, este de fazer literatura de muito boa qualidade com o registro popular de fala.

Muitos dos termos encontrados no livro vieram para o Brasil, assumindo forma diferenciada, por se adaptarem a outro tipo de substrato linguístico. "N'ga", por exemplo, que ali é forma de tratamento, virou pra nós "nêga" - por isso se justifica a Nega Tide, por exemplo, como se usava na Ilha de Santa Catarina. "Vavó" e "Vavô" são nossos vovó e vovó. Moringa eles dizem "moiringue". E há termos, expressões, frases, que são puro dialeto africano, e desconhecemos completamente, mas para eles há um glossário, ao final. E as regências e algumas estruturas frasais são meio esquisitas pra nós, mas nem por isso menos bonitas. Me encanto: olhem só como os danadinhos dizem...


Junto com esse registro da linguagem, apreendemos a vida cotidiana, os hábitos, a filosofia de um povo pobre demais, e que se libertou do jugo lusitano muito depois de nós, em país não tão cheio de possibilidades como o nosso. São três contos, um trágico, outro muito divertido, o terceiro um tanto cruel. E todos muito bons.

E na página 58 encontro esta maravilha:

" Dizia Xico Futa:
Pode mesmo a gente saber, com a certeza, como é um caso começou, aonde começou, pra quê, quem? Saber mesmo o que estava se passar no coração da pessoa que faz, que procura, desfaz ou estraga as conversas, as macas?(1) Ou tudo que passa na vida não pode-se-lhe agarrar no princípio, quando chega nesse princípio vê afinal esse mesmo princípio era também o fim doutro princípio e então, se a gente segue assim, para trás ou para a frente, vê que não pode se partir o fio da vida, mesmo que está podre no outro lado, ele sempre se emenda noutro sítio, cresce, desvia, foge, avança, curva, pára, esconde, aparece... E digo isto, tenho minha razão. As pessoas falam, as gentes que estão nas conversas, que sofrem os casos e as macas (2) contam, e logo ali, ali mesmo, nessa hora em que passa qualquer confusão, cada qual fala a sua verdade e se continuam falar e discutir, a verdade começa a dar fruta, no fim é mesmo uma quinda (3) de verdades e uma quinda de mentiras, que a mentira é já uma hora da verdade ou o contrário mesmo."

(1) Aqui a palavra significa "assunto".
(2) Aqui, vai significar "conversas".
(3) Cesto.

VIEIRA, José Luandino. Luuanda. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Céu de origamis



De Luiz-Alfredo Garcia-Roza, Companhia das Letras,2009.


Diz o release da editora:

Cecília é uma secretária competente. Depois que seu patrão sai do consultório dentário ela guarda todo o equipamento, desliga os aparelhos, tranca a porta e vai embora. Doutor Marcos é um homem tranquilo, e o trabalho com ele é sem sobressaltos. Hoje ele e a mulher vão jantar em casa de amigos. Fato raro, pensa a secretária. Em geral, doutor Marcos e a mulher ficam em casa. Estranho, para um casal jovem como eles...

Cecília gosta de trabalhar no consultório. Tudo é sempre tão perfeitamente previsível que Cecília jamais poderia imaginar que no dia seguinte receberia a visita da polícia em busca de informações sobre seu patrão. Na véspera, doutor Marcos desaparecera sem deixar sinal. Não havia registro de acidentes de trânsito nem de nenhum tipo de ocorrência policial. Só que ele simplesmente não chegara em casa.

E, como se não bastasse, havia um detalhe absurdo: o carro de doutor Marcos estava estacionado exatamente onde deveria estar, em sua vaga na garagem do prédio onde morava. O que teria acontecido com doutor Marcos? Sobre ele, Cecília explicaria a Espinosa: "Sempre foi atencioso e gentil, nunca alterou a voz, nunca reclamou com mau humor de alguma coisa. Ele parece irreal".

* * *

Um só aspecto, nesse release. E não dá ideia do clima, de Espinosa se recuperando de cirurgia,por causa de um tiro no pulmão, do filho recém-chegado dos Estados Unidos, onde foi criado, pensando em vir se estabelecer no Brasil, dos mistérios e dúvidas que se vão acumulando e desvendando aos poucos.

AMEI! Acho um dos melhores romances de Garcia Roza, e sou fã deste Espinosa leitor voraz e de suas estantes sem estante... E o título tão original? Bem,é explicado bem lá no finzinho!

domingo, 22 de novembro de 2009

Almoçando na Barra

E pode ter coisa melhor?
Com bons amigos, no Capitão Fortaleza... Apesar do dia cinzento, foi ótimo!




Milagres acontecem: consegui captar a gaivota no voo!




E com direito a café no Mirante da Praia Mole.

sábado, 21 de novembro de 2009

Que flagra!

Hum, João tem 63 anos, mas ainda tá em forma, né não?
(maldades do Alberto!)


João Bosco aproveitou a tarde de quinta-feira, 5, para caminhar pela orla do Arpoador, Zona Sul carioca. O cantor adotou um look um tanto peculiar para a ocasião: uma sunga multicolorida acompanhada de um tênis vermelho. Bem ousado.

Prontos pro Natal



Acho a coisa mais brega do mundo,mas à noite até ficam bonitinhos...




quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Fools rush in,com The Voice



A versão que João e Chico Bosco fizeram fica bem próxima da letra original:

Passos de amador

Tolos vão
Onde anjos temem ir
Por isso estou aqui, amor
De coração na mão
Sim, eu sei
Posso sofrer
Mas já não tenho, amor
Nada a perder
Tolos vão
Em passos de amador
Os sábios têm os pés no chão
Não sabem do amor
Foi te ver
Não pude mais voltar
Pois deixe no teu coração
Um tolo entrar

Coisas do destino?



Nessas "conjuminâncias" (meu pai ADORAVA esta palavra! Nem sei se existe...) meio estranhas da vida, de uns dias pra cá virei depositária de mensagens que não eram pra mim. De um modo geral, tenho achado muita graça.

Mas esta aqui me deixou intrigada:

"Deixaste ele te amar desse jeito, pra depois fazer o que fizeste, né, krd? Mals."

Estava no celular. O número de quem mandou também está, mas como evidentemente não é pra mim, fico na minha.

Mas tenho que avisar esta "KRD" que mande de novo a quem de direito. E, se for conhecida minha, favor explicar essa engronha! Fiquei muito curiosa!

Valeu a espera!



Depois de dias e dias de transtorno, terminaram a reforma da calçada em frente ao Itaú.
UFA!
Olhem como ficou legal!

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Bodas de prata

Terminei "Profissionalismo é isso aí",tou agora analisando as canções que falam de casamento. É esta aqui é a primeira. E a mais antiga, também.



Bodas de prata
(João Bosco/Aldir Blanc)

Você fica deitada
De olhos arregalados
Ou andando no escuro de penhoar
Não adiantou nada
Cortar os cabelos e jogar no mar
Não adiantou nada o banho de ervas
Não adiantou nada o nome da outra
No pano vermelho
Pro anjo das trevas
Ele vai voltar tarde
Cheirando a cerveja,
Se atirar de sapato na cama vazia
E dormir na hora murmurando: Dora...
E você é Maria
Você fica deitada
Com medo do escuro
Ouvindo bater no ouvido
O coração descompassado
É o tempo, Maria, te comendo
Feito traça num vestido de noivado.

domingo, 8 de novembro de 2009

Paixão moçambicana






Esta semana andei ciscando nos livros, feito galinha desesperada. Comecei um, comecei outro, mas nada me agradava: enfiava de volta na prateleira. Sufocada pelo calor, estressada com exames médicos, queria algo que me desse TESÃO,poxa...

Ontem à tarde me deu na telha: vou ler o autor mais bonito do mundo, Mia Couto. Fui na estante, catei o primeiro, dos que ainda não tinha lido. Ah, era isso mesmo! Coimaxlinda, modeuzi!

A sinopse diz:
" Jesusalém, ermo encravado na savana, em Moçambique, abriga cinco almas apartadas das gentes e cidades do mundo. Ali, ensaiam um arremedo de vida - Silvestre e seus dois filhos, Mwanito e Ntunzi, mais o Tio Aproximado e o serviçal Zacaria. O passado para eles é pura negação recortada em torno da figura da mãe morta em circunstâncias misteriosas. E o futuro se afigura inexistente. Silvestre afança aos filhos e ao criado que o mundo acabou e que a mulher - qualquer mulher - é a desgraça dos homens. Mas um belo dia os donos do mundo voltarão para reivindicar a terra de Jesusalém. E não só isso - uma bela mulher também virá para agitar a inércia dos dias solitários daqueles homens."

Mas sinopses empobrecem, não falam da linguagem, do clima, do universo paralelo que se cria nas páginas que se vai abrindo,e nos puxam lá pra dentro, a compartilhar daquele mundo...

Mwanito é o narrador, o afinador de silêncios. É aquele que veio pra Jerusalém muito pequeno, não se lembra do mundo de lá, que, segundo o pai, morreu... Sua perspectiva é única, mas é curiosa, embora ainda não revoltada. A do irmão,porém, é pura revolta...

O pai brinca de ser Deus, e faz amor com a jumenta Jezibela, que corteja como se mulher fosse. E ela o trai com ...uma zebra.

Um dia aparece Maria, a portuguesa, e Jerusalém se torna o Eden, com adões que dão por falta de sua costela.

Mas no moçambicano Mia (diminutivo de Emílio) a linguagem é o grande achado. Se em Terra Sonâmbula, livro que fez seu renome, ele se mira no espelho da linguagem roseana, aqui ele é o dono dela. Mais que isso: é seu deus.

Cada capítulo tem epígrafe de grandes poetas mulheres da língua portuguesa: Sophia de Mello Brayner Andersen, Hilda Hilst, Adélia Prado (sintomático que duas sejam brasileiras? Não, Mia é declaradamente fã de nossos autores!)

Descobri que busco nos livros e nos autores justamente esse amálgama de enredo com linguagem própria e única, o prazer imenso de encontrar numa narrativa a criação de um universo que se diz com sua própria, adequada, inimitável linguagem.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

O verão chegou!

* Levantei um pouco antes das seis, e fui ao varal pegar um short que estava lá. No prédio de trás, luz acesa, os bombeiros fazendo suas camas. Me deu pena, por causa dum clichê que há na minha cabeça: velho é que acorda cedo, a moçada gosta de dormir até mais tarde...

* Mais tarde, quando fui estender a roupa lavada, meu olhar passa rapidamente por ali e me ponho a rir: pra confirmar meu julgamento anterior, uma toalha de banho com estampa de brinquedos pendurada numa corda, perto da janela. Crianças, crianças, mesmo.

* Quando a gente gosta do que ensina, aprende mais que os alunos... Ensinava a observar, e acho que quem mais aprendeu fui eu mesma... Rápida mirada, e faço retrato da pessoa que observo... No primeiro andar ali são os bombeiros. Acima deles, uma família. E a guria que ocupa o quarto que dá pra área daqui é supercaprichosa, dá até gosto ver.Tá sempre arrumando alguma coisa, sem no entanto ser compulsiva, como se arrumasse quando deixa de usar, ou quando ela mesma desarruma.Acertou seu ritmo e seu método, e funciona bem dentro deles. E tem horários de abrir e fechar as persianas, conforme o andamento do sol...

* Continuo terrível com as datas. Me ligaram há pouco da clínica: a senhora tem consulta hoje com a dra.Fulana, às 13:50. Me pus a rir: eu tava certa que seria amanhã, ainda bem que ligaste! Irei, irei!

* Trabalhei tempão em "Coisa Feita", de João e Aldir, enchi páginas de anotações, mas o texto, nada! Nem a fórceps! Ouvi todas as diferentes gravações que João fez dela, incluindo a do DVD, e nada! Me queixo pra amigo lajeano, e ele ri da minha cara: tás parecendo touro marrão! Para de dar marrada na parede, e passa pra outra, depois voltas pra essa. Sem estresse. Não é que ele tem razão? Tou em "Profissionalismo é isso aí", e tá indo legal... Sou tão idiota, às vezes! E adorei ser chamada de touro marrão, expressão que os avós serranos usavam, mas eu não ouvia há tempos.

* Vou redigitar as entrevistas que fiz com João, porque não tenho em arquivo. E releio. Como João é bom, gente,'cês nem imaginam! Bom demais, bom demais, merecedor de cada grama de admiração que tenho por ele. Tou louca pra fazer entrevista nova, pensando no que pode vir, nós dois mais maduros, mais experientes e mais sábios...

* Calor, calor,pernilongos mil, as donas pernilongas serenatando e mordendo, atrás de seu ciclo reprodutivo. Mas Sérgio da Costa Ramos diz que vai ser verão de chuva. Leio e dou risada: não sei se é real, ou apenas desejo dele, pra se livrar da terrível invasão estival!

Crônica do Rubens da Cunha

OS ANIMAIS-TEXTO

Puxa um livro ao acaso da estante: “Jardim Zoológico”, de Wilson Bueno. Abre ao acaso uma página: 73. Lê. Concentra-se no mundo imaginário de Bueno, na linguagem poética. Visiona “os Zíngaros & os Zongues”, os animais inventados por Bueno para ocupar esse jardim zoológico.

Os animais podem ser inventados, mas, ao serem escritos e enjaulados na página 73, tornam-se mais reais do que leões ou elefentes. Engraçado isso: personagens, cenários, ideias, versos, tudo que ser cria em literatura fica preso na página, igual a um jardim zoológico. Entramos, às vezes, num livro e o percorremos inteiro, do começo ao fim, libertamos alguns animais, deixamos outros presos no esquecimento.

Em outros livros, sobretudo os de poemas e de narrativas breves, podemos visitar apenas um texto, observá-lo mais atentamente, decidir se vamos trazê-lo conosco ou vamos deixar ali, eternamente, naquela página.

Todo leitor tem consigo pelo menos uma dezena de animais-texto de estimação, libertos de algum livro. São animais que o protegem numa situação incômoda de tristeza, ou que o tornam inteligente quando precisa aparentar inteligência. Leitores são seres frágeis, estão sempre à caça de novos textos.

Não que os velhos não sirvam mais, mas uma reserva é sempre bem vinda, e mesmo o mais genial texto gasta-se com o tempo, vide o “ser ou não ser” de Shakespeare, talvez o animal-texto mais usado no mundo. Enfim, todo clichê já foi uma frase original.

Visita mais um animal de Wilson Bueno: página 33. “Os dicéfalos”, animais com duas cabeças que habitam as geladas florestas da Islândia. Duas cabeças? E se tivéssemos realmente duas cabeças? Ou mais cabeças? Talvez por isso os leitores fazem dos textos que eles libertam dos livros suas outras cabeças.

Os textos falam, pensam, sentem pelo leitor, e reciprocamente o leitor também fala, pensa e sente com os textos. É um intercâmbio, um intermédio entre o leitor, bicho de uma cabeça apenas, e as infindas cabeças-texto que ele conseguir libertar, ou melhor, que o leitor conseguir prender a ele mesmo, afinal cada citação, cada lembrança de um texto nada mais é do que amarrá-lo um pouco mais sobre nosso corpo, aprisioná-lo um pouco mais ao lado de nossa cabeça original. Todo leitor, mais do que um dicéfalo, é um pluricéfalo.

Página 27. “Os nácares”. Animais que vibram na ausência da luz. Foram vistos por Jorge Luiz Borges, graças à cegueira dele. O leitor também precisa ser um cego para resgatar alguns animais-texto. Precisa não lhes ver a procedência, não lhes ver os espinhos e as agruras. Todo leitor sabe que o melhor animal-texto é aquele que o fere, seja por raiva, seja por beleza, mas é sempre um ferimento profundo e viciante, por isso o leitor precisa de cuidado, libertar um animal-texto feroz sempre de noite, um de cada vez, amansá-lo com pouca leitura, caso contrário será engolido pela força voraz do animal-texto recém liberto e zaz: foi-se mais um leitor em direção à luz.

Leitor bom é leitor dentro da escuridão, leitor em busca da luz. Com a luz encontrada, todas as jaulas são abertas e tudo se acaba em nada.

(Anexo, AN, 4/11/2009)

Crônica do Amílcar Neves

Morcegos e chocolate

É uma situação constrangedora quando preciso falar aqui de certos assuntos sensíveis, polêmicos ou delicados, abordar ideias tidas por ofensivas a quem delas discorda por motivações políticas, religiosas ou futebolísticas. Esse negócio de haver crianças na sala só complica mais as coisas. Como retirá-las em tempo hábil se nunca se sabe quando alguém vai pegar o jornal e abri-lo precisamente nesta página? Com a televisão é mais fácil, basta colocar a advertência no ar e a responsabilidade pelo que elas virem a seguir passa automaticamente a ser dos pais. O jornal não dispõe de tal recurso.

Pior: o jornal trata da palavra escrita, e esta é muito mais ameaçadora e insidiosa do que a palavra falada, do que mil imagens. Jornais, assim como livros, submetem os seus autores a constante sobressalto: quando será que alguém se sentirá atingido, profundamente ofendido por uma palavra ou uma frase e entrará com um processo judicial pedindo a censura sumária do que foi dito – melhor: do que foi escrito –, exigindo sua retirada incondicional do mundo das coisas acontecidas, e, como castigo adicional, uma polpuda indenização por danos morais? Isso pode suceder mesmo muitos anos depois que se deram as coisas relatadas.

Há tribunais que concedem tanto a censura quanto a indenização.

Imagino que, a esta altura da crônica, as crianças tenham abandonado o texto, possivelmente o próprio jornal, desinteressadas já desta conversa que lhes parece que a nada levará. E isto fi-lo de propósito, para despistar-lhes a atenção. O problema é que, atingido este intento inicial muito importante (para não ter problemas com o editor do caderno nem com as penas da Lei), percebo que se esvai irremediavelmente o meu precioso espaço e sequer, afora o título posto no topo, entrei no assunto.

Queria dizer-lhes, agora que, a bem dizer, as crianças deixaram a sala, que o chocolate causa quatro vezes mais prazer do que um beijo, especialmente se o deixarmos derreter lentamente sobre a língua (vale para ambos, parece).

E os morcegos? Bem, os morcegos asiáticos de uma espécie frutívora fazem sexo oral para prolongar a relação, ou seja, supõe-se que usem muito a língua para falar entre si de sexo (o tal de sexo oral) e, assim, incrementar a relação social entre os indivíduos da colônia.

Comprova-se, assim, que sempre é prudente empregar a língua com moderação.

(Variedades,DC,4/11/2009)

terça-feira, 3 de novembro de 2009

sábado, 31 de outubro de 2009

Porque hoje é sábado




* A charge do Frank me fez lembrar que hoje é Halooween, o que não teria importância, em outro local. Mas aqui no condomínio as crianças passam pedindo doces, tenho que providenciar algum... Pirulitos? Bombons? Sacos de bala? Lá nas galegas eu resolvo...

* Ano passado esqueci, dei dinheiro.Depois fiquei pensando: estes danadinhos são bem capazes de aproveitar e ir comprar alguma coisa que as mães não permitem... Melhor não!

* Fui ao banco, passei na padaria pra pegar um pão fresquinho, e tava entrando quando uma voz me chama: psiu!psiu! ei vizinha, não tá cantando, hoje? (Era o aluno de jornalismo que faz estágio (?) na Quorum, e me contava que me ouve passar cantando - fico morta de vergonha, juro nunca mais cantar... e esqueço ali na esquina). Me virei de mãos na cintura: agora é que estás chegando, mas que pouca vergonha! (Ele diz que não, que está chegando cedo porque vai fazer mudança... Os vizinhos estudantes são sazonais, mudam a cada estação).

* Recebi do Rodrigo Schwarz, escritor e jornalista do AN, seu livro infantil:Ração pra cobras. Tá uma gracinha, com as ilustrações do Fábio Abreu. Eu já tinha lido no original, porque Rodrigo pediu opinião, mas assim impresso, ilustrado, bonitinho à beça - é outra coisa, né? (Rodrigo sempre diz que sou a única pessoa que nunca erra o sobrenome dele. Eu caio na risada: não sou besta, cara, vou sempre conferir!)

* Hoje tem churrasco, aqui no condô, da turma de 99.1 - são 10 anos do ingresso no curso duma das turmas mais festeiras do Jornalismo/UFSC. Ginny ligou de Brasília: quero ver te escapares, é aí no teu condomínio! Neto garantiu que vinha. Michele, que foi minha orientanda, não vai poder... Mas vai ser legal!

* E mais tarde vem um amigo me ajudar a transferir as cortinas da sala para a sacada - vou fazer experiência em decoração, pra ver como gosto mais... E até, agora que envidracei a sacada, se deixo as portas da sala ou não... Mas sem gastar, que a barra anda pesada!

* E pra todo mundo desejo um bom feriadão!

Crônica do Fábio Brüggemann

Ledos enganos

Há mais de 2.500 anos, Tales de Mileto, o filósofo grego, acreditava que as plantas eram água antes de serem plantas, porque a cada vez que a chuva caía elas brotavam. Para ele, tudo era feito de água. Já um de seus discípulos, Anaximandro, foi um dos primeiros a desmontar a ideia de que a Terra não era sustentada por alguma coisa, mas ainda tinha certeza de que era plana, apenas um ledo engano.

Desculpas pelo salto de mil anos na história, mas Giordano Bruno foi queimado na fogueira da Inquisição porque atribuiu ao universo uma infinitude discordante dos “sábios doutos” da Igreja Católica. Galileu Galileu quase foi queimado, e só não foi porque voltou atrás (não por convicção, mas por medo) de sua própria afirmação anterior de que a Terra era redonda e girava.

Indivíduos têm muitas ideias revolucionárias, ao contrário do coletivo, que eu chamaria aqui de “institucional”, pois custa, por vezes milênios, a aceitar novos conceitos talvez óbvios, como os fatos de que nem tudo é água, que a Terra, além de ser redonda, gira, e, por fim, que o universo talvez seja mesmo, pelas várias evidências científicas, infinito. Isso pode ser um bom argumento para a tese de que tudo aquilo que pensamos sobre as coisas que realmente interessam podem estar bastante equivocadas.

Tudo bem que é muito difícil suplantar os desejos da experiência pessoal. É diferente, muito aliás, alguém saber que pode morrer se fumar muito cigarro, ou beber muita cachaça, ou ficar burro por assistir muita televisão. Mesmo assim, pessoas continuam fumando, bebendo cachaça e, o que é pior que tudo isso, assistindo televisão.

Somos todos filhos do engano. Inclusive, escrever sobre isso talvez seja apenas mais um engano, e não tão ledo. Aliás, pouca gente sabe que “ledo” vem do latim e significa “alegre”. Alguns enganos individuais talvez não façam tão mal, a não ser àquele que se autoengana. Agora, os enganos coletivos, como o modo tolo como dirigimos, votamos, acreditamos, pensamos, enfim, estes não são nada ledos.

(Variedades, DC, 31/10/2009)

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Caetano canta Incompatibilidade

Caetano fala sobre Incompatibilidade...

Crônica do Olsen


(O poeta Dylan Thomas)




O DIA DE ESTRELA DE UM MALDITO

Olsen Jr.

O poeta galês, Dylan Thomas, se estivesse vivo celebraria 95 anos este mês. Lembrei porque me perguntaram sobre ele, cinco dias atrás.

Essa crônica trata dos malditos.

Convencionou-se chamar de “maldito” aquele escritor de talento que, longe do seu “fazer”, despreza as convenções sociais, o maneirismo peculiar da sociedade que, por dever de nascimento, deveria absorver.

Não obedece às regras porque, afinal, quem segue está sempre atrás. A minha razão é essa, mas cada um pode fazer a própria lista.

A grande arte é intuitiva.

Depois de um lauto almoço elaborado por Márcia Philippe, mulher do João Vianney, ex-sócio na Editora Paralelo 27 (junto com Carlos Damião) e, coisa rara, de sócios que continuam se dando bem após o término da sociedade, acompanhados da Julie e da Jade, também o Victor Hugo, a quem acabara de conhecer, ligado a informática, bom papo, seguimos para um bolicho à beira da estrada para assistir ao Gre-Nal... Claro está que nessa empreitada só foram os homens.

Casa cheia, reduto gremista, mas o proprietário administrava a tasca com pulso firme, poderíamos ficar tranquilos, segundo a informação do Vianney, uma vez que tanto eu quanto o Victor éramos torcedores do colorado.

Permanecemos ali fora, a conversa estava boa e, com todo o respeito, não vimos o jogo. Soubemos do gol logo no início pelo óbvio da exaltação dos vermelhos.

Quando terminou o embate tive de entrar na birosca para buscar duas cervejas, porque estava na minha vez. Nas costas da camisa vermelha que usava, estava o meu nome e alguém me chamou. Logo dou de cara com três gremistas pilchados e um deles, pergunta: “o que o senhor acha do Dylan Thomas e da Beat Generation?”. Sem refletir muito, afirmo que o Bob Dylan (cujo nome verdadeiro é Robert Allen Zimmermann) adotou o Dylan em uma homenagem ao poeta... Eles me ouviram e um deles afirmou “gostei do papo, quem sabe o senhor não fica aí para a gente conversar mais?”... Disse que estava com amigos ali fora, mais tarde poderia ser.

Quando saí, me lembrei que foi o Pasquim, na década de 1970, através dos textos do escritor Luis Carlos Maciel que nos tinha revelado o Jack Kerouac, Allen Ginsberg, William Burroughs, Charles Bukovsky, Neal Cassady, Gregory Corso, Timothy Leary, Peter Orlovsky, Carl Solomon, Lawrence Ferlinghetti...

Mais tarde, um dos gremistas que era também professor, se aproximou e me pediu um autógrafo... No princípio acreditei que ele estivesse tirando um sarro, mas não, se confessou um admirador e falou de uma crônica “Os Novos Beatniks” publicada nesse mesmo espaço na véspera de natal do ano passado, daí o seu interesse pelo tema.

O papo ia animado e logo os outros dois gremistas entraram na roda. Quem nos visse de longe acharia inusitado, um torcedor colorado com outros três gremistas discutindo literatura. Um deles disse que ainda curtia a velha máquina de escrever e o Victor Hugo ficou de rever sua concepção sobre o uso da tecnologia entre os mais jovens.

Afirmei que outros autores, pouco lembrados, tinham influenciado aquela geração e poucos se davam conta, citei o J. D. Salinger e “O Apanhador do Campo de Centeio” em que alguns (depois de um porre) incorporavam o personagem do livro, Holden Caulfield (rimos) e também, talvez o melhor deles, Ken Kasey que escreveu “Voando Sobre um Ninho de Cucos” e inspirado nele que o Milos Forman fez o filme “Um Estranho no Ninho”... Mais recente, “Quando Eu Era o Tal”, de Sam Kashner sobre a vida na Jack Kerouac School...

Próximo das 22hs quando o teor alcoólico da moçada já estava entrando no campo das confidências, lembrei do Dylan Thomas “Um alcoólatra é alguém de quem você não gosta e que bebe tanto quanto você”... Despedimo-nos e prometemos continuar o papo no próximo jogo, independente do Grêmio ou Internacional.

(recebida por email)

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Crônica do Maicon Tenfen

O cinema pornô

No último sábado, nas dependências da Furb, em Blumenau, tive oportunidade de assistir a uma palestra sobre a história do cinema pornô no Brasil e no mundo. Tema interessante e necessário, mas também espinhoso, pois se é verdade que tudo pode ser discutido academicamente, não é menos verdadeiro que a pornografia ainda figure como assunto “deslocado” na Universidade, ainda mais porque o palestrante, o historiador Viegas Fernandes da Costa, fez questão de exemplificar sua fala com fragmentos de filmes e vídeos clássicos do gênero.

A pornografia no cinema nasce imediatamente depois da invenção dos irmãos Lumière. Logo nos anos 1920, era comum a exibição de filminhos pornográficos em ambientes clandestinos como prostíbulos e cabarés. Esses filminhos eram chamados de “stags”, duravam menos de 10 minutos e valorizavam o vouyerismo (sempre havia um desocupado espiando pelo buraco da fechadura). Não deixa de chamar atenção o caráter transgressor dos “stags”, que primavam pelo ataque debochado a instituições estabelecidas como a Igreja e a Família – além de situações adulterinas, eram recorrentes as encenações de surubas envolvendo padres e freiras!

Dessa época até a liberação da pornografia e a eclosão do grande cinema pornô dos anos 1970 com Garganta Profunda e O Diabo na Carne da Srta. Jones, ambos do mítico Gerard Damiano, fica claro que as técnicas de filmagem erótica evoluíram no mesmo passo em que evoluíram as técnicas de depilação feminina. No Brasil, merece destaque Oh Rebuceteio! (o título é um achado!), de Claudio Cunha, exibido no finzinho da ditadura militar.

Nós catarinenses não devemos esquecer a preciosa contribuição dada ao gênero por nosso conterrâneo Ody Fraga (1927-1987). Inicialmente membro do Grupo Sul, companheiro de Salim Miguel e Silveira de Souza, Ody mudou-se para São Paulo e dirigiu dezenas de pornôs de sucesso, alguns com títulos sugestivos como Senta no Meu, Que Eu Entro na Tua e Mulheres Taradas por Animais. Quem disse que os barrigas-verdes nunca chegaram lá, hein?!

A partir dos anos 1990, com a popularização do videocassete, e mais recentemente, com a avalanche de pornografia veiculada na internet, o pornô perdeu seu caráter público e transgressor para se concentrar no individualismo da esfera privada. Essa passagem da sociologia para a psiquiatria merece estudos (de preferência ilustrados) que ainda precisam ser feitos.

(Variedades,DC,29/10/2009)

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Crônica do Rubens


(Roy Lichtenstein)

ACORDAR É PRECISO?

Amanheceu desordenada. Antes de abrir os olhos, lembra-se do feito na noite passada. Por que a pessoa tem de acordar? Abre os olhos, Clara não está mais ali, claro que não estaria, claro que se levantou no meio da madrugada e saiu porta à fora, vida a dentro.

Senta-se na beira da cama, espreguiça-se, olha o quarto desordenado também. O álcool, os risos, a comida, os olhares, mãos e língua, tudo volta embaralhado. Levanta-se, junta um pouco de roupa, põe no cesto de roupas sujas, pudesse se colocava lá dentro também. Tinha prometido que não cairia mais na armadilha de se apaixonar, de se lançar numa aventura com outra mulher, não com esse tipo de mulher que Clara era.

Tão diferente do nome: escura, mesquinha, mas ao mesmo tempo tão sedutora. Abre mais os olhos, abre a janela, lá fora a vida amanhece para muitos. Logo ela será uma dessas formigas que vê caminhando lá embaixo. Talvez pudesse interromper o trabalho das formigas se se jogasse. São dez andares. Mais fácil trazer Clara de novo e jogá-la, aí, sim, estaria fazendo as coisas direito.

Quando voltar, vai se livrar de todas as velharias que estão nesse apartamento. Deveria ter se livrado de Clara antes. Ela disse que, dessa vez, não iria embora, que era para ficar, que era para sempre, que Clara parecia tão sincera, tão verdade, e foi se chegando e foi se apertando nela, que não teve escolha: acreditou, mais uma vez, a quinta.

Entra no banheiro, despe-se. A água escorre corpo abaixo, olha a espuma sumir-se no ralo. Cinco vezes, cinco vezes trouxe Clara para a sua vida, e cinco vezes foi abandonada. A culpa não poderia ser de Clara, mas somente sua, afinal, Clara era movida apenas pelos seus sins.

Enxuga-se. Olha-se no espelho, bonita ainda, tem certeza. A pele macia, os seios firmes, sorriso inteiro, cabelos vastos, tudo nela resplandecia beleza e juventude, por que então essa dependência, esse contínuo perdão às falhas de Clara? Sempre o mesmo, quase um vício, tanto dela em se deixar levar, quanto de Clara em pedir sempre um retorno, sempre uma segunda chance.

Abre o guardarroupa. Veste-se da maneira mais elegante possível. É preciso superar a dor de alguma maneira, nem que seja pela roupa. No canto, uma blusa de Clara, lembra-se do dia em que compraram. Quando voltar de noite, a blusa, as fotos, os fios de cabelo que por acaso ainda estiverem sobre a cama, tudo vai para o lixo, tudo vai sair desse apartamento. À noite.

Tenta tomar um café antes de sair. Não consegue. A garganta fecha-se diante de mais uma partida. A cadeira onde Clara costumava se sentar ainda está do jeito que ela deixou, meio de lado. Uma lágrima por sobre o rímel. Controla-se. Levanta-se. O dia de trabalho intenso à espera. É provável que, quando voltar, Clara esteja novamente sentada na porta pedindo perdão. É provável que, pela sexta vez, diga sim, pode ficar. É provável que jamais conseguirá ser de outra forma. Tranca a porta atrás de si.

Por que será que as pessoas têm de sempre acordar?

(do Anexo,AN,28/10/2009)

domingo, 25 de outubro de 2009

Meus padrinhos



Pois posso ir bancando a menina, pela vida, uma fadinha, ou assim me sinto, muitas vezes, porque tenho dois padrinhos que - vôti! - se saem com uns conselhos ou umas tiradas de ninguém botar defeito.

1. Fui à UFSC na quarta. Cheguei lá logo após as treze horas, quando terminava o Projeto Quarta 12 e 30. Encontro Scotto sentado num dos bancos ali da frente do CCE, ouvindo o Couro e Cordas, tomando um solzinho.

Já chego brigando/brincando: tou de mal, né? Não falas mais comigo, não me dás bola, é um horror o jeito como me tratas... Ele já sabe que não é sério, mas assim mesmo responde a sério, mas logo paramos com isso e começamos a falar da vida. E me queixo:

- Pô, cara! Não consigo terminar o livro do João Bosco, tem sempre algo a mais pra dizer, faltando alguma coisa, achando alguma coisa... Tou ficando desesperada! Agora fico lendo as críticas sobre o último CD, e louca pra polemizar com os caras, mesmo elogiosos, desse jeito não acabo nunca mais!

E ele:

- Tem uma frase do García Márquez, acho que está no Cheiro de Goiaba, em que ele diz assim: LIVRO A GENTE NÃO ACABA, A GENTE ABANDONA...

Sabem o que é levar uma bela bofetada (macia,linda,perfeita!) pelas guampas? Pois levei. E louca de faceira! Era bem isso, nunca vi nada mais correto, no momento mais exato.

Hoje sentei, escrevi no caderno de notas: O que falta para ABANDONAR JOÃO! E listei tudim! E não é muita coisa, não, só preciso ficar dentro daquilo, e parar de saracotear por mais coisas...

(E ainda esbanjei a mesma frase com o Dauro, que se queixava de querer ir fazendo de novo e diferente certas cenas de seu média...O que serve pra livro, serve pra filme, né não?)

2. Encontrei o Flávio José Cardozo no Espírito de Porco,ontem, e me falou de atividades conjuntas Sopé e Bulha d'arroio, ali pela região de origem. AMEI a ideia,mas estávamos ambos com agendas diversificadas. Pois esta manhã ele tirou tudo a limpo,e ainda achou tempo de me telefonar, apenas para me tranquilizar... Quer dizer: como se não bastassem os conselhos e ajudas, ainda se preocupa em não me deixar preocupada. Viva ele! Faltam só as bergamotas para ele ser o "padrinho" mais perfeito, hehehe...

Scotto, Flávio, não mereço vocês, mas sou muito, muito grata!

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Crônica do Rubens




A VIDA É BREVE

Nada se salva quando suamos desgraça.” Esta frase é do romance “A Vida Breve”, do uruguaio Juan Carlos Onetti. Trata-se de um romance paradigmático do século 20, com personagens intensos, que transitam entre relacionamentos, escolhas erradas, traições.

A frase carrega em si uma verdade explícita, que, no mundo contemporâneo, poderia ser facilmente abduzida por um manual qualquer de auto-ajuda e se tornaria mais um clichê pró-felicidade 100%. É evidente que nada se salva quando suamos desgraça, mas também nada se salva quando suamos felicidade, fé, ódio, amor, quer dizer, quando nos reduzimos a uma coisa só, a um campo de visão apenas, quando elegemos uma verdade única e imutável.

Tenho visto muito isso ultimamente: gente cada vez mais escudada por uma ideia fixa, seja negativa ou positiva. Já diz o ditado: quem tem um filho não tem nenhum. O mesmo se pode dizer das ideias, dos sentimentos, dos caminhos escolhidos.

Penso que o suor humano deva ser misturado, deva ser vitimado pela dúvida, pela inconstância, pela alegria tanto quanto pelo desespero, pela angústia, enfim, somos mais completos quando somos múltiplos, “umasómultiplamatéria”, para usar a expressão de outra grande: Hilda Hilst.

Dentro do romance “A Vida Breve”, esta frase vem acompanhada de uma interessante teoria do personagem que a pronunciou. De acordo com ele, quando suamos desgraça é preciso que a gente queime toda a roupa velha. Tem de queimar, destruir, não pode doar, pois se a roupa for passada para outro ela “arrastará seu novo dono e nos perseguirá”, a roupa retornará a nós para devolver seu veneno.

O personagem recomenda também que, além de queimar a roupa, é preciso tomar um banho bem quente e beber um copo de sulfato de magnésio, o famoso “salamargo”, dormir e pronto: no outro dia, “tão novo como um recém-nascido, tão alheio a seu passado como o monte de cinzas que deixa atrás de si”.

Não há dúvida que se empenhar em conseguir ser menos obcecado por algo único passa por queimar tudo, largar velharias, abandonar dogmas, desistir de sonhos, experimentar novas aberturas. Claro, nem sempre precisa ser tão radical. Pode-se abrir uma nova porta sem necessariamente fechar a antiga, mas é preciso perceber quando a velha porta aberta nos fecha novos caminhos. Enfim, é sempre algo angustiante, algo que nos tira a certeza.

Os personagens de “A Vida Breve” vivem dentro desse universo de agarrar-se ou desgarrar-se, apegar-se ou desapegar-se. Talvez, por isso, seja um romance tão atual, pois retrata os avessos e os direitos da humanidade, ao mesmo tempo em que é também um romance difícil, pois estamos cada vez mais inseguros, mais necessitados de portos seguros, de visões e conceitos únicos.

Está cada vez mais difícil ser “a metamorfose ambulante” do velho Raulzito, mas precisamos tentar: ideias únicas e roupas velhas já levaram o mundo a grandes guerras e grandes violências. E como prenuncia tão bem o romance de Onetti, a vida é breve para ficarmos presos a ninharias. Temos é que viver a largueza da brevidade da vida.

(recebida por email)

Crônica do Olsen





A DOR DOS OUTROS

A vida em condomínios abriga algumas peculiaridades que muitas vezes passam despercebidas dos moradores. O fato de muitas ações serem repetidas diariamente produz uma rotina imperceptível. Assim, é quase certo que encontraremos as mesmas pessoas todos os dias. Algumas mais, outras menos.

Com as crianças, tais particularidades são mais arraigadas. Elas praticamente crescem juntas, meninos e meninas em turmas diferentes. Usufruem da mesma piscina, praticam esporte na mesma quadra, usam o salão de festas para reuniões sociais e desfrutam da churrasqueira com os adultos ou de maneira independente.

Com o passar do tempo, os pais se tornam amigos e passam a ter, inconscientemente, certa responsabilidade pela população miúda. As crianças se conhecem e frequentam os apartamentos das outras e até dormem na casa de uma ou de outra como se o ato representasse uma pequena aventura.

Você só entende o significado disso quando, passados 15 anos, recebe o telefonema de um filho afirmando: “Pai, o Lucas morreu”.

Segue-se um silêncio e, antes que você possa dizer alguma coisa, ouve “o Sky (apelido carinhoso do garoto, provavelmente tirado do filme ‘Guerra nas Estrelas’) era um dos meus melhores amigos”.

Então, cai a ficha e, antes de encontrar algo para dizer, você se lembra deles brincando juntos lá no prédio onde moravam, jogando bola no pátio, ocupando o tempo com o “Banco Imobiliário”, jogando canastra, xadrez, os brinquedos eletrônicos e, depois, mais adultos, a descoberta e paixão pela música. Cada um escolhendo um instrumento e ensaiando.

É, seguem-se todas aquelas manobras pouco sutis de conduzir a aparelhagem para cima e para baixo, no carro de um ou de outro dos pais, da escolha de um lugar para ensaiar, da negociação com a vizinhança. Afinal, daquelas tertúlias musicais bem que poderia sair um virtuose, quem sabe alguém que ficará famoso um dia e poderão dizer: “Puxa, essa gurizada ensaiava lá perto de casa, mas sempre botei fé que dali sairia alguma coisa boa. E não é que eu estava certo!”

Soube que o Lucas tinha apenas 30 anos, não fumava e não bebia, havia casado recentemente, dedicava-se inteiramente à música. Acabara de ganhar uma bolsa para fazer um mestrado em música e a banda dele iria tocar no fim do ano na França. Ele estava animado, no auge do entusiasmo que poderia representar uma promissora carreira. E aí, um enfarte põe fim ao sonho.

Ironia, triste destino, quando nos aproximamos do sonho, ele se esfuma, evapora, some. Permanece, então, a história da luta que foi para buscá-lo e isso justifica uma vida inteira, ainda que se alie à tristeza, a solidão, as dores do que se perdeu pelo caminho.

Meu filho está chorando ao telefone. Imagino o que significa aquela tragédia para todos os amigos deles, os pais do Lucas, Paulo e Gisela da Rosa e os irmãos, Tiago e Paola. O mundo desabando em cima de uma família e as forças do universo mostrando em todos os nossos poros o quanto somos pequenos e vulneráveis aos seus desígnios.

Penso nas “Meditações”, do poeta John Donne, quando diz “A morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte da humanidade”.

A dor dos outros explodindo em significações e eu ali, mediocremente, pensando na eleição para uma academia de letras, deus meu, como um homem pode deixar-se corromper por tal papel?

Foi naquela hora, na tarde de terça-feira, que decidi não submeter mais o meu destino a uma minoria de homens de letras. E daí, já despido da glória passageira do Olimpo, como um mortal que acaba de descobrir a verdade essencial, solidariamente, chorei junto com o meu filho aquela perda humana que nenhuma lágrima poderia mais trazer de volta!

(recebida por email)

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Crônica do Amílcar Neves



(Mulher lendo, de Pablo Picasso)



Ler. Para quê?


Ler um livro, para começar. Com todo o respeito pelos jornais, revistas e meios eletrônicos, ler, de verdade, é ler livro. Por mais que, democraticamente, se possa discordar desta posição.


Ler um livro de literatura, fique claro. Manuais técnicos, religiosos e de autoajuda são textos de consulta, não de leitura. Ler livro é ler literatura, apesar de se vender o peixe por aí embrulhado em folhas de livro.


Ler um livro de literatura de qualidade, esta é a questão. Nem tudo o que reluz é literatura. Ler livro de literatura é ler obra de qualidade estética e, claro, literária; o resto, me desculpem, é perda de tempo.


Então, invariavelmente, vem a pergunta: por qual razão, humanitária ou prática, haveria alguém de pôr-se numa tal confusão de escolher um livro, e que fosse de literatura, e que fosse de qualidade, para fazer essa coisa tão chata e enfadonha que é isso de ler?


Evidente: numa casa em que pai, mãe, tios e vizinhos param tudo - param de comer, de conversar, de se conhecer e até de amar - para se deixar hipnotizar por uma sequencia quase interminável de telenovelas (a sucessão de enredos sempre repetitivos só acaba na hora de dormir para ir trabalhar amanhã cedo), fica bem mais difícil para a criança e o adolescente descobrirem espontaneamente o prazer insuperável da leitura (de um bom e instigante livro de literatura).


O escritor peruano Mario Vargas Llosa dá a pista para uma resposta sensata à questão no livro Cartas a um Jovem Escritor:


“Sem dúvida, o jogo da literatura não é inócuo. Produto de uma insatisfação íntima com a vida como ela é, a ficção também é uma fonte de mal-estar e insatisfação, pois quem, através da leitura, vive uma grande ficção - como as duas que acabo de citar, a de Cervantes e a de Flaubert [o autor se refere, respectivamente, a Dom Quixote e Madame Bovary] - retorna à vida real com uma sensibilidade muito mais aguçada diante de suas limitações e imperfeições, inteirado por aquelas magníficas fantasias de que o mundo real e a vida de verdade são infinitamente mais medíocres do que os inventados pelos escritores. Essa intranquilidade frente ao mundo real que a boa literatura alimenta pode, em certas circunstâncias, traduzir-se também em uma atitude de rebeldia contra a autoridade, as instituições ou as crenças estabelecidas.”


Por isso os ditadores odeiam livros, quem os escreve e quem os lê.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Brincando de poetar




Já dizia Tio Patinhas
nos gibis de nossa infância:
vá cuidando dos tostões
que eles viram milhão!

Pra ver se isso funciona
tou cuidando dos beijinhos
pra ver se viram...
BEIJÃO!

Crônica do Felipe Lenhart







Escrever

Por que é difícil escrever? Por que as palavras teimam em escapulir de repente? Muitas vezes estão na palma da mão, adestradas, prestativas e corretas, prontas a pular para o teclado; em outras, ficam deitadas no nosso colo, de onde as pescamos como quem come pipoca no cinema, absortos no texto que flui diante de olhos incrédulos. Mas é fato: elas correm de nossa visão e fogem de nossas mãos como num feito de mágica. Nada entendemos. Uma hora estão aqui, saltitantes e ardendo, e num minuto desaparecem, sacanas. Sapecas e sacanas: os personagens perdem a fala, a descrição do ambiente fica incompleta. Ao mínimo descuido, danou-se: os que no papel falam e sentem e choram fogem para trás da folha em branco, zombam de nossa falta de atenção e se recusam a voltar. A sala, o quarto, a estação de metrô ou a agência dos correios viram lugares frios, sem cheiro e cor, sem vida e música. Por que diabos é tão difícil escrever?

Em certas noites, parece mesmo que a tela do computador debocha de nós. Ela fica fora de foco, o teclado dorme, o branco cega e o texto estaca. É duro quando as palavras, andarilhas do tempo e do espaço, entram em greve e pedem adequado uso e aumento de vocabulário. Porque puxamos da memória sempre as mesmas palavras. Aí, a revolta: erguem-se em armas os as e os is, deitam os emes de cabeça para baixo e tudo fica de pernas pro ar. No teclado, aperta o “d”, surge o “t”. São elas sabotando a máquina.

A situação pode piorar: as letras formam fileiras, braços dados, serifas unidas, em nome do idioma. Nestes casos, a César o que é de César: busca-se na estante um livro grande e empoeirado, recorre-se ao Aurélio. Ele sabe como negociar com os rebelados. Em minutos apresenta um termo novo, uma expressão em desuso e pronto, voltam a formar palavras e frases e parágrafos as letrinhas satisfeitas.

Resolvidas as questões do aumento e do uso adequado, respiramos fundo e seguimos em frente. Voltam a conversar os personagens, música soa no quarto do Joca. Música embala também a discoteca onde Joana dança, na fatídica noite do dilúvio bíblico que vai afogar a cidade inteira e ninguém sobreviverá a não ser Joana. São fábulas que as palavras nos proporcionam.

Pelo menos até amanhã, tudo certo. Mas no novo dia, nova crônica, as palavras novamente irão se rebelar, vingativas. Aí, repete-se o óbvio: por que é difícil escrever?

(Variedades,DC,19/10/2009)

domingo, 18 de outubro de 2009

Sou eu!



É uma ilustração da New Yorker, mas confesso que bateu aqui dentro...

Sou eu, né? Pensando com minha própria cabeça, escolhendo meus próprios caminhos,não me conformando com o que dizem, e indo atrás do que me satisfaça a curiosidade e me forneça uma explicação aceitável. Repetindo clichês por ironia, detestando gente carola e hipócrita, e gente que é estação repetidora do que está aí...

Daí que também se sentindo muito solitária, algumas vezes... Mas ADORANDO achar um igual! (Não são muitos, mas existem...)

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Tiradas do Aldir Blanc






* "A esperança não é a última que morre, mas é a primeira que pega fogo."

* "A moça parou de fumar e ficou deprimida. Definhou, depois morreu. Para ser preciso: ex-fumou-se."
(qui nem qui eu!)

* "A grande maioria dos brasileiros vê o túnel do fim da luz."

* "Advertência: sou avô, mas não tô morto."
(só mudo o gênero).

* "Em Medicina, segunda opinião é aquela que faz você voltar correndo pra primeira."

* "Sete entre cada dez brasileiros têm medo de bala perdida. O enterro dos outros três foi ontem."
(Exagero, né, Aldir? Substitui 'brasileiros' por 'cariocas', que daí tá certo!)

(In-: Guimbas. Rio: Desiderata, 2008).

Crônica do Olsen

O GUARDADOR DE CARROS

Um dia qualquer, já faz muito tempo, ele apareceu. Foi surpreendente. Ninguém ali na rua tinha conhecimento daquele cidadão e tampouco do ofício que exerceria a partir daquela chegada, tão espantosa quanto abrupta.

Ele chegou, postou-se na calçada como se fosse um velho habitué, seguro de si. Passou a percorrer aquele caminho em frente aos vários restaurantes da região. No começo, foi para se assenhorear do espaço, como fazem os cães e gatos que delimitam o terreno do qual se apropriam, deixando claro a quem interessar que a área tem um dono.

Tentaram afugentá-lo dali. Parecia um corpo estranho, algo que precisava ser extirpado logo. Mas não deu certo. Na manha, como dizem por aí, ele foi levando. Por outro lado, se pensava, ele não iria ser persistente o tempo todo a ponto de se transformar em uma instituição.

Os dias foram passando, mas tão certo quanto dois e dois são quatro, pela manhã, perto do meio-dia, ele aparecia. Postava-se em frente, como que imbuído de uma missão, levava a sério o ofício. Cumprimentava todo o mundo.

Depois, mais atrevido, até insinuava um diálogo, embora para quem o visse de longe, desse a impressão de estar falando sozinho, porque ninguém parava para ouvi-lo. Ah, ele tinha um cacoete. Quando começava a conversar, abanava a cabeça para os lados como se estivesse espantando uma mosca. O gesto era acompanhado com um dos braços que era erguido a altura do pescoço e se movia na horizontal acompanhando a cabeça.

À medida que os sons saiam com dificuldade da boca, o nervosismo era acelerado e, com ele, os trejeitos, compondo uma coreografia de danados. Era poesia tirada de um dos versos de Augusto dos Anjos, um poeta de quem ele jamais ouvira falar.

Os anos também foram amontoando-se. Ele, que jamais faltou a um único dia ao trabalho, teria recebido todos os galardões caso trabalhasse em uma empresa tradicional. Seria um exemplo. Jamais uma doença ou outro motivo qualquer o afugentou do que ele considerava uma obrigação sagrada. Se não o conhecesse, diria que estava pagando uma promessa.

De certa maneira, quando se percebeu que a sua presença era inevitável, passou-se a ajudá-lo. Um dia, lhe dei de presente uma camisa da Lacoste. Era de cor azul-turquesa, xadrez e não sei o porquê, havia caído um pingo de água sanitária na parte posterior, algo quase invisível que me incomodava. Mas ele não deu pelo fato e passou a vestir aquela camisa todos os dias. Quase fiquei com remorso, afinal, era eu o culpado daquela constância. E ele sempre me dizia: “Obrigado, poeta”.

Ele está em frente da minha casa todos os dias. Ganha dinheiro honestamente. É pouco, mas ele sobrevive. Não deve favores para ninguém. Não depende de políticos. Não precisa fazer mesuras para adiantar o lado dele. Agora, também folga nas segundas-feiras, como quase todos os donos de restaurante.

Era torcedor do Palmeiras quando chegou. Mais tarde, alguém lhe deu de presente uma camiseta do Flamengo e ele se tornou ardoroso defensor das novas cores. Outro dia, o proprietário de um restaurante na vizinhança ameaçou de não lhe dar mais café se ele continuasse com aquela camiseta rubro-negra. Ele então, voltou – como amante apaixonado e arrependido – a torcer pelo Palmeiras, onde está até hoje. Flutuação de humor passageira à parte, parece natural quando acontece com os outros. Nós, os durões, não nos permitimos tais concessões.

Hoje pela manhã, antes de sair de casa, fiquei um tempo observando aquele cidadão, pacato, tranquilo, soberano em seus domínios, pouco mais de cem metros de calçada, nada parecia lhe tirar a serenidade. Acenei de longe para ele, fui retribuído com um largo sorriso e aquela expressão que já tinha virado rotina: “Tudo bem, poeta”. Com certa inveja, afastei-me. Se ele ao menos soubesse. Na verdade, o poeta era ele!

(Anexo,AN,16/10/2009)

A Super Salander




É muito raro os volumes de uma série manterem a qualidade à medida que se desenvolvem. O normal é irem decaindo, mas se ainda forem gostosos de ler, tá de bom tamanho.

Acabo de ler o terceiro do Millenium, de Stieg Larsson,A rainha do castelo de ar, e se o jornalista continua sendo o Super Blomkvist, a Lisbeth Salander, a mulherzica de metro e meio, com jeito de anoréxica, também vira super... e imortal.

Meio inverossímil a forma como conseguem antecipar e frustrar todas as jogadas de um fictício ramo da Säpo, a Polícia de Estado Sueca, ramo este que protegia o pai da Salander, o espião russo Zalachenko. Virou livro de espionagem, são muitos os James Bond suecos, mas é gostoso de ler à beça...

Para quem, como eu, teve que ficar de repouso por causa de (mais uma!) cirurgia dentária, uma boa distração!

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Uma crônica censurada

Esta crônica que Olsen fez pro AN não vai ser publicada amanhã.
Desconfio que não pelo conteúdo, mas pelo "puta que os pariu"... que é exigido pela situação e compreensível.
Ele está muito indignado, e autorizou esta publicação.


CARTA À ANITA PIRES

Olsen jr.

Há muito estou para lhe escrever. Demorei-me, todavia, porque acreditava, depois de certo tempo, tomando pé da situação, a senhora iria levar a bom termo a empreitada, isto é, dirigir a Fundação Catarinense de Cultura.

Estive em sua posse. Muito concorrida, acrescente-se. Afinal, era uma mulher, foi guerrilheira. Bonita, inteligente, culta. Tinha uma história para contar. Já havíamos (eu e a minha família) lhe emprestado apoio quando de sua candidatura à prefeitura de Florianópolis, em outros tempos. Nunca lhe pedi nada, não lhe devo nada, a não ser essa admiração por alguém que formou, como eu, fileiras no velho MDB de guerra, no tempo em que isso era sinônimo de esquerdismo, comunismo, anarquismo e não sei mais quanto “ismos” se poderia acrescentar a quem lutou por uma causa que se julgava justa. Portanto o que lhe digo é com a melhor das intenções.

O que me motiva agora foi uma excrescência que li no jornal. O governo do estado, através da FCC, elege uma “comissão” para escolher os escritores que irão a Feira do Livro de Porto Alegre. Estranho, penso. Se o “Governo” vai facilitar uma locomoção até a feira, bancando o veículo, natural seria se protagonizasse uma inscrição e que todos os interessados pudessem fazê-la, afinal, o governo, administra o Estado e não um feudo, de ungidos e diferenciados por apadrinhamento.

Depois, analisando os acontecimentos ligados a minha área, isto é, a literatura, deparei-me com apoteóticas coincidências, senão vejamos: se a senhora, dona Anita Pires por quem ainda tenho grande admiração, observar – basta por as listas dos nomes a sua frente – os membros que compuseram a comissão que selecionou os classificados no Edital Elizabeth Anderle, mais os nomes que integraram aqueles que escolheram os livros que deveriam ser adquiridos na “Lei Grando”(na Cocale – Comissão Catarinense do Livro) para abastecer as bibliotecas do Estado e ainda, esses agora que escolheram os nomes dos escritores para irem a Feira do Livro, nas três listas a senhora irá deparar com nomes que se repetem em todas elas.

Well, esses nomes ficaram conhecidos, grosso modo, como os “Mastins do Péricles”... Mastim, como a senhora sabe, são cães de guarda, existem desde a Idade Média, são subservientes e fieis a quem lhes garanta a sobrevivência e extremamente ferozes com quem ameace essa condição e´”Péricles”, naturalmente nada tem a ver com o político e estadista grego (490-429 a.C) discípulo de Anaxágoras e maior orador do seu tempo ou o criador do “Amigo da Onça”, genial personagem de Péricles de Andrada Maranhão que desde a década de 1940 inspirava o bom humor brasileiro, sempre pondo alguém em uma fria.

Isso posto, acrescente-se a má fé, como diria Sartre, em se “ungindo os agraciados com a ida a Feira do Livro com a indicação da cidade de origem, do nascimento, dos “eleitos” para dar uma ideia de “universalidade” e “abrangência” como se tivesse abarcado o Estado inteiro, assim, o sujeito nasceu em Blumenau (mas mora em Florianópolis), nasceu em Lages (mas está em Floripa), nasceu em Tubarão (mas reside em Floripa) e vai por aí... Puta que os pariu... (alô revisão, é puta que os pariu mesmo)...

O Estado ajuda muito quando não atrapalha.

Estive em Criciúma na semana passada, na Feira de Rua do Livro, pô! Existe uma aversão por esse compadrio que alicia indivíduos, apaniguados pelo Estado, para causas que deveriam ser de ordem coletiva e se tornam aparato de um grupelho, com a exceção de um e outro, inexpressivo de nossa literatura, por mais que insistam.

Por isso tudo, senhora Anita Pires, reveja essa condição, não se deixe dominar por maus aconselhamentos ou então nos explique por que quando se está dentro do poder se tem uma tendência de repetir mal o que se combatia bem quando se estava fora?

Aceite o abraço de quem lhe quer bem e lhe deseja sucesso!

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

A crônica do Rubens da Cunha

DESABAFO DE UMA PLACA DE TRÂNSITO

Eu sou uma feliz placa de trânsito. Quer dizer, eu era uma feliz placa de trânsito. Quer dizer, continuo sendo placa, mas não tão feliz.

Eu sou a Proibido Estacionar, muito prazer. Essa é a única coisa que eu consigo falar para as pessoas: “Proibido estacionar”.

Antes, me compreendiam, viam-me, e sabiam que por ali perto de mim não poderia estacionar. Era óbvio e a obviedade obviamente fazia a minha felicidade. Desculpe-me, às vezes exagero nas repetições. É o hábito de uma vida inteira repetindo: “Não estacione”.

Mas, ultimamente, não sei bem o que tem acontecido. De repente, começaram: uma paradinha de leve. Depois, mais tempo, mas o motorista ainda ficava dentro do carro. Depois, só uma saidinha, mas com o vidro aberto, tipo para indicar que era uma urgência, ou coisa assim.

Agora não, agora eles até ligam o alarme, trancam tudo e vão embora. Ou seja, deixam-me muda. Eu já nem existo mais, estou ali como enfeite. Um ou outro recebe uma multa, reclama, sai xingando, achando que tem razão, mas de nada adianta. Parece que eles tão brotando do chão, logo em seguida vem outro, liga o alarme do carro e vai.

Eu grito, peço por favor, imploro, aviso do perigo de ser multado e nada, eu já não existo. Eu tenho uma prima que é bem mais nervosa do que eu, a Proibido Estacionar e Parar. Essa, sim, mandava bem mais que eu, com ela não tinha conversa. Não tinha, que fique bem claro. Esses dias, a coitadinha tava acabada. Perguntei por que e ela disse que eles pararam em fila dupla bem no lado dela.

Quer dizer, parar é pouco, eles estacionaram, um do ladinho do outro. E ela ali, gritando a todos pulmões que não poderia nem parar, quanto menos estacionar. Nada, ela também já não existia. O pior foi toda a fila que se formou, todo o caos que aconteceu e o quanto riram dela. Tipo, até gritaram que ela não mandava mais nada, que tinha de ser jogada fora. Maldade com a coitadinha, anos de serviços prestados, e agora isso, tanto ela quanto eu ignoradas por muita gente.

A minha reclamação é que não é mais um ou outro atrevidinho que tá fazendo isso, é muita gente. Eu sei que está cada vez mais difícil ter carro e andar na cidade, mas se deixarem de obedecer a mim e a as minhas companheiras de trabalho, a coisa toda degringola de vez.

Enfim, uma vez pararam aqui embaixo de mim dois homens e um deles contou a seguinte piada: que era preciso tomar cuidado com os chineses, pois onde tem um buraco eles abrem um mercado. Não estou falando mal dos chineses, eu acho que eles estão certos. Errados estão os motoristas que onde tem uma vaga, um buraco qualquer, mesmo que seja em lugar proibido, mesmo que vá atrapalhar centenas de pessoas, estacionam e ficam, mesmo que eu e todas as outras placas e sinais de trânsito gritemos o contrário. É a barbárie chegando.

Eu vim aqui só desabafar e avisar mais uma vez: algo tem de ser feito, pois, caso contrário, eu vou perder a utilidade. Já tem certas horas que fica todo mundo estacionado mesmo. Fica a dica.

(Anexo, AN, 14/10/2009)

A crônica do Amílcar Neves

E o abalo psicológico, senhores?

A matéria foi distribuída pela BBC em 8 de outubro passado. O título provocante instiga à leitura: “Neto de ex-líder soviético Stalin processa jornal por difamar seu avô”.

Caramba! Já pensaste? Caminhas pela rua e escutas as pessoas dizerem que o teu amado avô, tão dócil e gentil contigo, na verdade não passa de um facínora. Como não haverá de abalar-se profundamente com isso o teu espírito ainda verde, em plena formação? E o teu equilíbrio psicológico, onde irá parar? Acima disso: será que um dia reencontrarás esse equilíbrio ouvindo persistentemente as pessoas destratarem o teu doce avô? Quem não reagiria com bravura e destemor a essa inominável e bárbara agressão?

Pois foi o que aconteceu: “O neto do ex-líder soviético Joseph Stalin abriu um processo nos tribunais russos contra um jornal liberal que ele acusa de difamar seu avô. Yevgeny Dzhugashvilli disse que um artigo na publicação Novaya Gazeta dizendo que Stalin ordenou pessoalmente as execuções de cidadãos soviéticos é uma mentira.” O texto conclui:

“O professor de História Orlando Feges, da Universidade de Birkbeck, em Londres, disse que o caso é bizarro, já que há vários documentos comprovando o envolvimento de Stalin nas execuções. ‘Não entendo por que o tribunal aceitou seguir adiante com o processo’, disse Feges. ‘Desde 1991, centenas de documentos dos arquivos da KGB sobre o assunto foram liberados e publicados’.”

Eugênio, o neto, se daria bem em Santa Catarina. Ainda que os acontecimentos do passado tivessem ocorrido em 1919, ele leria na sentença judicial joias como “O fato é que, independente da veracidade das informações e das respectivas fontes, houve excesso por parte dos réus na forma como [o avô] foi descrito. (…) Não se pode aceitar, pois, que um livro de ficção contenha palavras de desrespeito a cidadão que, de fato, existiu. (…) Qualquer pessoa seria prejudicada psicologicamente ao tomar ciência de que seu ascendente foi tachado com palavras ofensivas. (…) Evidente que os descendentes podem defender a imagem do ente querido já falecido, pois, quem ainda vive, sofre os efeitos das boas ou más qualidades atribuídas aos que já se foram.”

Além de Stalin, estarão salvas as memórias e preservadas as imagens de Hitler, Bush e Médici. E, apoiados na Justiça, poderemos questionar a ocorrência do Holocausto ou da Guerrilha do Araguaia.

(Variedades,DC,14/10/2009)

Refazendo Tito,o jornalista



De 1946 a 1956, meu avô Tito Carvalho foi correspondente do JB e da Asapress na Câmara e no Senado da República, no Rio de Janeiro. Estou com dois de seus cadernos de anotações, que começo a estudar devagarinho, pra selecionar o que haja de interessante nelas.

Ali estão Café Filho, Nereu Ramos, Carlos Marighela, Jorge Amado... Que deverão ser pesquisados, pra ver datas de mandatos, essas coisas... Vai ser um prazer!


segunda-feira, 12 de outubro de 2009

No sopé da serra do Rio do Rastro

Vai ser lançada nesta quinta, em linda edição da Unisul, uma seleção de crônicas (com mais dois contos) do Flávio José Cardozo. Lá na Livros & Livros da Jerônimo Coelho, a partir das 19 horas.

É claro que estarei, ainda mais que já li o livro, por deferência especial do autor, e como sei que os cronistas da city passarão por lá, quero dar um abraço nos "cumpadres" todos... Tou fora da crônica, mas continuo cronista, fazer o quê!


Para tornar o livro ainda mais bonito,o Tércio da Gama fez ilustrações de deixar a gente babando...


E, como vantagem adicional, ótima apresentação do Silveira de Sousa!



No sopé da serra, no cimo da crônica...


Pelo título já se pode deduzir o que vem dentro: as lembranças do autor, que é de Guatá, município de Lauro Müller, região carbonífera, ali na subidinha (no sopé) da serra do Rio do Rastro, um pouquim antes de Orleans, terra do vô Tito Carvalho e de meu pai...

Uma das características das crônicas que faz minhas delícias é a capacidade de dizer muito, de dizer em profundidade, assim, na maior, como se não estivesse dizendo nada importante... Mestre Candido diz que a crônica apresenta a vida ao rés do chão, mas quero explicar melhor: posto dessa forma, pode parecer que a crônica faz coisa desimportante, e não é isso. Ela transforma essa vida ao rés do chão em literatura, e, portanto, a engrandece, nos faz pensar sobre ela, aprofunda as reflexões... para o leitor que quiser fazer isso, é claro.

E vejam só o que Flávio faz nesta crônica, das aprendizagens da infância trazidas para o que ele é, vive e observa hoje:

“Na escolinha primária do Guatá, também aconteceu comigo o que aconteceu com a maioria das crianças de outros tempos: entrou em minh’alma o Hino Nacional. Ele sempre me dá uma comoção sincera, mistura de sentimento da pátria Brasil com memória da pátria Infância – ‘pátria é a infância’ parece que alguém já disse. Por mais triste que o Brasil possa andar, escuto o hino e fico com alguma esperança. Devíamos ouvi-lo toda semana, às segundas-feiras, cedinho.”(p.20)

Perfeito: ao ouvi-lo toda segunda, bem cedinho, ao iniciar nossa semana produtiva, teremos presente a imagem da pátria, naquilo que ela tem de amorável, para nos acompanhar durante os dias...

Nas minhas preferências estão os cronistas do afeto, nestes tempos tão bicudos quanto todos os que os antecederam, mas que adora chafurdar na revolta e na depressão – tempos em que a angústia se sente solta e livre para ser a tônica, junto com o medo. Há um poema do chileno Amado Nervo em que ele diz: “os homens nada esperam/ temem muito os homens”... Pois sou a favor, sempre, de lhes dar motivos para não temer,de lhes dar motivo para nutrir esperança. E encarar a vida com afeto é, nesta avaliação, a melhor maneira de fazê-lo,estendendo-o para o que nos rodeie:

“Me perdoe o próprio Senhor do Bonfim, mas nem Ele chamava mais a atenção do povo que a Banda Santa Bárbara. Singelas são minhas posses neste mundo.Uma delas é essa bandinha tocando aqui dentro.” (p.41)

Em “Da arte de comer melancia”, é lembrada, em minúcias, a maneira como o pai do cronista costumava escolher, preparar, cortar e servir uma melancia... Era assim mesmo que todo mundo fazia, né, cumpadre, mesmo quando já se tinha geladeira – ela era posta a refrescar no tanque cheio de água, porque uma enorme melancia não caberia inteirinha dentro da geladeira... E hoje, que pobreza de tempos!, sou obrigada a trazer apenas uma fatia pra casa, porque moro sozinha, não compro mais melancia inteirinha. E tenho saudades daquelas enormes frutas compridas – agora só as vejo redondas... E só de polpa vermelha, quando às vezes comíamos daquelas de polpa amarela, que o pessoal apelidava de “melancia de japonês”.

E confesso: não costumo ter inveja, não, a não ser de fatos muito importantes. Mas eu, a vida inteira professora de marmanjos universitários, que não dão muita pelota pra figura do professor, fiquei morrendo de inveja de Dona Húngria, assim, com este acento fora de propósito, por esta linda declaração de amor de um ex-aluno... Ainda bem que inveja não mata! A crônica? "Dona Húngria", é claro,que não dá pra resistir a um nome desses!

Vivo repetindo que a melhor forma de aprender e de construir textos é por comparação, em termos de semelhança e contraste. Vejam aqui:

“A Quaresma, não faz tanto tempo assim, começava no primeiro segundo da Quarta-Feira de Cinzas. No exato encontro dos ponteiros, à meia-noite, a orquestra dos bailes carnavalescos sustava a música, e os foliões,contrariados, iam para casa como se lhes tivessem acabado de roubar um doce,sabendo que pela frente tinham uma quarentena braba,de muita reza e abstinência.” (p.63)

Não sou muito mais jovem que o Flávio, mas na adolescência, embora os dias até fossem assim, vidas de Cristo e paixões de Cristo nos cinemas – ou Marcelino, pão e vinho,uma graça – o Carnaval em Floripa, ao menos para a elite local, terminava manhã de quarta adiantada, quando os últimos foliões do Doze e os do Lira saíam dos respectivos clubes e se encontravam na rua, pelas imediações da Praça XV...

E não podia faltar homenagem aos mineiros de carvão, numa bela crônica intitulada “Máscaras”:

“Como esquecer? Daquela diária viagem ao subsolo vocês não chegavam rancorosos. Melancólicos, muitas vezes, mas nunca exibindo ódio. Cumpriam o pesado mergulho com a normal resignação de um lavrador no trato da terra. E,no entanto, que lavra a de vocês! Como esquecer o envelhecimento tão precoce, os poluídos pulmões que aposentavam homens ainda quase crianças, o andar curvado de tantos? “ (p. 75)

E, para fechar essa memória do sopé, coisa boa demax, dois contos de Guatá: “Duelo ao sol” e “Asas”. Não se pode perder, jamais...

domingo, 11 de outubro de 2009

Obrigada, João e Aldir!



Eu tava deitada no sofá, lendo o último Dunning, O último caso da colecionadora de livros. O rádio ligado, baixinho, na Itapema. De repente, João:

Música: Sonho de Caramujo
Autores: João Bosco & Aldir Blanc

Nem menino eu era garotinho
vivia adulto sozinho
eu nunca fui aonde eu ia
andava em má companhia
entrava no livro que lia e fugia .


Neguinho me vendo em Quixeramobim
e eu andando de elefante em Bombaim


Cumpri o astral de caramujo musical:
hoje eu gripo ou canto
não vou pro céu mas já não vivo no chão
eu moro dentro da casca do meu violão.

* * *

Samba, Alberto,é samba... Esta letra é qualquer coisa, fala de mim, também, adulta quando criança, andando de elefante em Bombaim, quando pensavam que eu estivesse em Floripa-Quixeramobim. E a casca de meu violão é meu sofá, com meus livros.
Obrigada, meninos, MUITÍSSIMO obrigada, por saber que somos alguns...

sábado, 10 de outubro de 2009

Mandinga das boa



As palavras têm histórias maravilhosas, né mesmo?

Passei mais de uma semana conferindo e reconferindo os termos usados na letra de "Coisa feita", pela simples razão de que os textos do Aldir Blanc costumam ter uma lógica interna impecável. Desconfio sempre das relações que se estabelecem dentro de suas letras, porque ele costuma esconder mais do que mostra, como um belo e "inocente" iceberg. Faço isso e vou redigindo a versão definitiva de meu texto. Fiquei um mês sem mexer, pra aprontar o livro do meu avô, e agora o jeito foi ir de volta ao começo...

A letra diz "princesa do Daomé", que é brincadeirinha sacana com "dar o mel", "a que dá o mé", sem dúvida, mas há relações semânticas com o país, que hoje se chama Benim, em uma boa parte do vocabulário.

Daí topei com "mandinga". Significa feitiço, mas o termo veio dos mandinga, nação africana ou povo tido por feiticeiro, reputados por uma rica tradição musical, como contadores de histórias e guardiões da tradição... Habitavam a região do Daomé, é claro... E muitos deles, escravizados, foram trazidos para o Brasil, havendo estudos sobre sua contribuição cultural na Bahia e no Maranhão, principalmente.( Não, não errei concordância - sou professora de português, mas não sou gramatiqueira e prefiro a concordância preconizada pela Antropologia: nomes de tribos ou nações étnicas não fazem plural. Assim, "os mandinga", "os navajo", "os tupi").

Além dessa coerência semântica, a palavra é bonita, sonora, e mesmo visualmente é agradável...

As armas da foto são da nação mandinga (há quem prefira usar "povo", mas não eu... Os dois termos englobam acepções diferentes.)

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Mercadim das galegas



Sabem aquela história de os últimos serão os primeiros? Fotografei dona Mara, a mais extrovertida das três irmãs que tocam o mercadim, enquanto a Ju somava minhas compras...ÀS 17horas, quando voltava do dentista...

Não posso não passar lá: a senhora não veio aqui ontem, dona Regina...
Isso porque passo nem que seja só pra dizer oi, daí estranham minha ausência...



A Nilde teve que fazer cirurgia dentária complicada, de mexer no "céu" da boca, foi demorado e sofrido. Agora está ótimo, ela está linda - mas paga seu pedágio no aparelho... Mantém o bom humor, porém, que neste quesito todas as três são ótimas! E o cabelo tá lindo, galega!




O Diego tem uns 2 metros de altura, e é sobrinho da Juliana e do Toninho. Trabalha o dia todo, e faz Engenharia de Produção à noite. Ontem encontrei-o na rua, e ele balançou a cabeça, em sinal de desaprovação. Fingi estar zangada:
- O que é? Ainda não fiz nada!
E ele, sentencioso:
- Mas vai fazer, mas vai fazer!



A Ju é trabalhadora incansável, sabe o preço de tudo, organiza, arruma, carrega, afe! Fico cansada só de pensar! Mas não desanima nunca, é uma figura admirável.
Faltou a Mara, que só vem à tarde, incluo a danadinha aqui depois!