quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Crônica do Maicon Tenfen

O cinema pornô

No último sábado, nas dependências da Furb, em Blumenau, tive oportunidade de assistir a uma palestra sobre a história do cinema pornô no Brasil e no mundo. Tema interessante e necessário, mas também espinhoso, pois se é verdade que tudo pode ser discutido academicamente, não é menos verdadeiro que a pornografia ainda figure como assunto “deslocado” na Universidade, ainda mais porque o palestrante, o historiador Viegas Fernandes da Costa, fez questão de exemplificar sua fala com fragmentos de filmes e vídeos clássicos do gênero.

A pornografia no cinema nasce imediatamente depois da invenção dos irmãos Lumière. Logo nos anos 1920, era comum a exibição de filminhos pornográficos em ambientes clandestinos como prostíbulos e cabarés. Esses filminhos eram chamados de “stags”, duravam menos de 10 minutos e valorizavam o vouyerismo (sempre havia um desocupado espiando pelo buraco da fechadura). Não deixa de chamar atenção o caráter transgressor dos “stags”, que primavam pelo ataque debochado a instituições estabelecidas como a Igreja e a Família – além de situações adulterinas, eram recorrentes as encenações de surubas envolvendo padres e freiras!

Dessa época até a liberação da pornografia e a eclosão do grande cinema pornô dos anos 1970 com Garganta Profunda e O Diabo na Carne da Srta. Jones, ambos do mítico Gerard Damiano, fica claro que as técnicas de filmagem erótica evoluíram no mesmo passo em que evoluíram as técnicas de depilação feminina. No Brasil, merece destaque Oh Rebuceteio! (o título é um achado!), de Claudio Cunha, exibido no finzinho da ditadura militar.

Nós catarinenses não devemos esquecer a preciosa contribuição dada ao gênero por nosso conterrâneo Ody Fraga (1927-1987). Inicialmente membro do Grupo Sul, companheiro de Salim Miguel e Silveira de Souza, Ody mudou-se para São Paulo e dirigiu dezenas de pornôs de sucesso, alguns com títulos sugestivos como Senta no Meu, Que Eu Entro na Tua e Mulheres Taradas por Animais. Quem disse que os barrigas-verdes nunca chegaram lá, hein?!

A partir dos anos 1990, com a popularização do videocassete, e mais recentemente, com a avalanche de pornografia veiculada na internet, o pornô perdeu seu caráter público e transgressor para se concentrar no individualismo da esfera privada. Essa passagem da sociologia para a psiquiatria merece estudos (de preferência ilustrados) que ainda precisam ser feitos.

(Variedades,DC,29/10/2009)

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