sábado, 31 de outubro de 2009

Porque hoje é sábado




* A charge do Frank me fez lembrar que hoje é Halooween, o que não teria importância, em outro local. Mas aqui no condomínio as crianças passam pedindo doces, tenho que providenciar algum... Pirulitos? Bombons? Sacos de bala? Lá nas galegas eu resolvo...

* Ano passado esqueci, dei dinheiro.Depois fiquei pensando: estes danadinhos são bem capazes de aproveitar e ir comprar alguma coisa que as mães não permitem... Melhor não!

* Fui ao banco, passei na padaria pra pegar um pão fresquinho, e tava entrando quando uma voz me chama: psiu!psiu! ei vizinha, não tá cantando, hoje? (Era o aluno de jornalismo que faz estágio (?) na Quorum, e me contava que me ouve passar cantando - fico morta de vergonha, juro nunca mais cantar... e esqueço ali na esquina). Me virei de mãos na cintura: agora é que estás chegando, mas que pouca vergonha! (Ele diz que não, que está chegando cedo porque vai fazer mudança... Os vizinhos estudantes são sazonais, mudam a cada estação).

* Recebi do Rodrigo Schwarz, escritor e jornalista do AN, seu livro infantil:Ração pra cobras. Tá uma gracinha, com as ilustrações do Fábio Abreu. Eu já tinha lido no original, porque Rodrigo pediu opinião, mas assim impresso, ilustrado, bonitinho à beça - é outra coisa, né? (Rodrigo sempre diz que sou a única pessoa que nunca erra o sobrenome dele. Eu caio na risada: não sou besta, cara, vou sempre conferir!)

* Hoje tem churrasco, aqui no condô, da turma de 99.1 - são 10 anos do ingresso no curso duma das turmas mais festeiras do Jornalismo/UFSC. Ginny ligou de Brasília: quero ver te escapares, é aí no teu condomínio! Neto garantiu que vinha. Michele, que foi minha orientanda, não vai poder... Mas vai ser legal!

* E mais tarde vem um amigo me ajudar a transferir as cortinas da sala para a sacada - vou fazer experiência em decoração, pra ver como gosto mais... E até, agora que envidracei a sacada, se deixo as portas da sala ou não... Mas sem gastar, que a barra anda pesada!

* E pra todo mundo desejo um bom feriadão!

Crônica do Fábio Brüggemann

Ledos enganos

Há mais de 2.500 anos, Tales de Mileto, o filósofo grego, acreditava que as plantas eram água antes de serem plantas, porque a cada vez que a chuva caía elas brotavam. Para ele, tudo era feito de água. Já um de seus discípulos, Anaximandro, foi um dos primeiros a desmontar a ideia de que a Terra não era sustentada por alguma coisa, mas ainda tinha certeza de que era plana, apenas um ledo engano.

Desculpas pelo salto de mil anos na história, mas Giordano Bruno foi queimado na fogueira da Inquisição porque atribuiu ao universo uma infinitude discordante dos “sábios doutos” da Igreja Católica. Galileu Galileu quase foi queimado, e só não foi porque voltou atrás (não por convicção, mas por medo) de sua própria afirmação anterior de que a Terra era redonda e girava.

Indivíduos têm muitas ideias revolucionárias, ao contrário do coletivo, que eu chamaria aqui de “institucional”, pois custa, por vezes milênios, a aceitar novos conceitos talvez óbvios, como os fatos de que nem tudo é água, que a Terra, além de ser redonda, gira, e, por fim, que o universo talvez seja mesmo, pelas várias evidências científicas, infinito. Isso pode ser um bom argumento para a tese de que tudo aquilo que pensamos sobre as coisas que realmente interessam podem estar bastante equivocadas.

Tudo bem que é muito difícil suplantar os desejos da experiência pessoal. É diferente, muito aliás, alguém saber que pode morrer se fumar muito cigarro, ou beber muita cachaça, ou ficar burro por assistir muita televisão. Mesmo assim, pessoas continuam fumando, bebendo cachaça e, o que é pior que tudo isso, assistindo televisão.

Somos todos filhos do engano. Inclusive, escrever sobre isso talvez seja apenas mais um engano, e não tão ledo. Aliás, pouca gente sabe que “ledo” vem do latim e significa “alegre”. Alguns enganos individuais talvez não façam tão mal, a não ser àquele que se autoengana. Agora, os enganos coletivos, como o modo tolo como dirigimos, votamos, acreditamos, pensamos, enfim, estes não são nada ledos.

(Variedades, DC, 31/10/2009)

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Caetano canta Incompatibilidade

Caetano fala sobre Incompatibilidade...

Crônica do Olsen


(O poeta Dylan Thomas)




O DIA DE ESTRELA DE UM MALDITO

Olsen Jr.

O poeta galês, Dylan Thomas, se estivesse vivo celebraria 95 anos este mês. Lembrei porque me perguntaram sobre ele, cinco dias atrás.

Essa crônica trata dos malditos.

Convencionou-se chamar de “maldito” aquele escritor de talento que, longe do seu “fazer”, despreza as convenções sociais, o maneirismo peculiar da sociedade que, por dever de nascimento, deveria absorver.

Não obedece às regras porque, afinal, quem segue está sempre atrás. A minha razão é essa, mas cada um pode fazer a própria lista.

A grande arte é intuitiva.

Depois de um lauto almoço elaborado por Márcia Philippe, mulher do João Vianney, ex-sócio na Editora Paralelo 27 (junto com Carlos Damião) e, coisa rara, de sócios que continuam se dando bem após o término da sociedade, acompanhados da Julie e da Jade, também o Victor Hugo, a quem acabara de conhecer, ligado a informática, bom papo, seguimos para um bolicho à beira da estrada para assistir ao Gre-Nal... Claro está que nessa empreitada só foram os homens.

Casa cheia, reduto gremista, mas o proprietário administrava a tasca com pulso firme, poderíamos ficar tranquilos, segundo a informação do Vianney, uma vez que tanto eu quanto o Victor éramos torcedores do colorado.

Permanecemos ali fora, a conversa estava boa e, com todo o respeito, não vimos o jogo. Soubemos do gol logo no início pelo óbvio da exaltação dos vermelhos.

Quando terminou o embate tive de entrar na birosca para buscar duas cervejas, porque estava na minha vez. Nas costas da camisa vermelha que usava, estava o meu nome e alguém me chamou. Logo dou de cara com três gremistas pilchados e um deles, pergunta: “o que o senhor acha do Dylan Thomas e da Beat Generation?”. Sem refletir muito, afirmo que o Bob Dylan (cujo nome verdadeiro é Robert Allen Zimmermann) adotou o Dylan em uma homenagem ao poeta... Eles me ouviram e um deles afirmou “gostei do papo, quem sabe o senhor não fica aí para a gente conversar mais?”... Disse que estava com amigos ali fora, mais tarde poderia ser.

Quando saí, me lembrei que foi o Pasquim, na década de 1970, através dos textos do escritor Luis Carlos Maciel que nos tinha revelado o Jack Kerouac, Allen Ginsberg, William Burroughs, Charles Bukovsky, Neal Cassady, Gregory Corso, Timothy Leary, Peter Orlovsky, Carl Solomon, Lawrence Ferlinghetti...

Mais tarde, um dos gremistas que era também professor, se aproximou e me pediu um autógrafo... No princípio acreditei que ele estivesse tirando um sarro, mas não, se confessou um admirador e falou de uma crônica “Os Novos Beatniks” publicada nesse mesmo espaço na véspera de natal do ano passado, daí o seu interesse pelo tema.

O papo ia animado e logo os outros dois gremistas entraram na roda. Quem nos visse de longe acharia inusitado, um torcedor colorado com outros três gremistas discutindo literatura. Um deles disse que ainda curtia a velha máquina de escrever e o Victor Hugo ficou de rever sua concepção sobre o uso da tecnologia entre os mais jovens.

Afirmei que outros autores, pouco lembrados, tinham influenciado aquela geração e poucos se davam conta, citei o J. D. Salinger e “O Apanhador do Campo de Centeio” em que alguns (depois de um porre) incorporavam o personagem do livro, Holden Caulfield (rimos) e também, talvez o melhor deles, Ken Kasey que escreveu “Voando Sobre um Ninho de Cucos” e inspirado nele que o Milos Forman fez o filme “Um Estranho no Ninho”... Mais recente, “Quando Eu Era o Tal”, de Sam Kashner sobre a vida na Jack Kerouac School...

Próximo das 22hs quando o teor alcoólico da moçada já estava entrando no campo das confidências, lembrei do Dylan Thomas “Um alcoólatra é alguém de quem você não gosta e que bebe tanto quanto você”... Despedimo-nos e prometemos continuar o papo no próximo jogo, independente do Grêmio ou Internacional.

(recebida por email)

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Crônica do Maicon Tenfen

O cinema pornô

No último sábado, nas dependências da Furb, em Blumenau, tive oportunidade de assistir a uma palestra sobre a história do cinema pornô no Brasil e no mundo. Tema interessante e necessário, mas também espinhoso, pois se é verdade que tudo pode ser discutido academicamente, não é menos verdadeiro que a pornografia ainda figure como assunto “deslocado” na Universidade, ainda mais porque o palestrante, o historiador Viegas Fernandes da Costa, fez questão de exemplificar sua fala com fragmentos de filmes e vídeos clássicos do gênero.

A pornografia no cinema nasce imediatamente depois da invenção dos irmãos Lumière. Logo nos anos 1920, era comum a exibição de filminhos pornográficos em ambientes clandestinos como prostíbulos e cabarés. Esses filminhos eram chamados de “stags”, duravam menos de 10 minutos e valorizavam o vouyerismo (sempre havia um desocupado espiando pelo buraco da fechadura). Não deixa de chamar atenção o caráter transgressor dos “stags”, que primavam pelo ataque debochado a instituições estabelecidas como a Igreja e a Família – além de situações adulterinas, eram recorrentes as encenações de surubas envolvendo padres e freiras!

Dessa época até a liberação da pornografia e a eclosão do grande cinema pornô dos anos 1970 com Garganta Profunda e O Diabo na Carne da Srta. Jones, ambos do mítico Gerard Damiano, fica claro que as técnicas de filmagem erótica evoluíram no mesmo passo em que evoluíram as técnicas de depilação feminina. No Brasil, merece destaque Oh Rebuceteio! (o título é um achado!), de Claudio Cunha, exibido no finzinho da ditadura militar.

Nós catarinenses não devemos esquecer a preciosa contribuição dada ao gênero por nosso conterrâneo Ody Fraga (1927-1987). Inicialmente membro do Grupo Sul, companheiro de Salim Miguel e Silveira de Souza, Ody mudou-se para São Paulo e dirigiu dezenas de pornôs de sucesso, alguns com títulos sugestivos como Senta no Meu, Que Eu Entro na Tua e Mulheres Taradas por Animais. Quem disse que os barrigas-verdes nunca chegaram lá, hein?!

A partir dos anos 1990, com a popularização do videocassete, e mais recentemente, com a avalanche de pornografia veiculada na internet, o pornô perdeu seu caráter público e transgressor para se concentrar no individualismo da esfera privada. Essa passagem da sociologia para a psiquiatria merece estudos (de preferência ilustrados) que ainda precisam ser feitos.

(Variedades,DC,29/10/2009)

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Crônica do Rubens


(Roy Lichtenstein)

ACORDAR É PRECISO?

Amanheceu desordenada. Antes de abrir os olhos, lembra-se do feito na noite passada. Por que a pessoa tem de acordar? Abre os olhos, Clara não está mais ali, claro que não estaria, claro que se levantou no meio da madrugada e saiu porta à fora, vida a dentro.

Senta-se na beira da cama, espreguiça-se, olha o quarto desordenado também. O álcool, os risos, a comida, os olhares, mãos e língua, tudo volta embaralhado. Levanta-se, junta um pouco de roupa, põe no cesto de roupas sujas, pudesse se colocava lá dentro também. Tinha prometido que não cairia mais na armadilha de se apaixonar, de se lançar numa aventura com outra mulher, não com esse tipo de mulher que Clara era.

Tão diferente do nome: escura, mesquinha, mas ao mesmo tempo tão sedutora. Abre mais os olhos, abre a janela, lá fora a vida amanhece para muitos. Logo ela será uma dessas formigas que vê caminhando lá embaixo. Talvez pudesse interromper o trabalho das formigas se se jogasse. São dez andares. Mais fácil trazer Clara de novo e jogá-la, aí, sim, estaria fazendo as coisas direito.

Quando voltar, vai se livrar de todas as velharias que estão nesse apartamento. Deveria ter se livrado de Clara antes. Ela disse que, dessa vez, não iria embora, que era para ficar, que era para sempre, que Clara parecia tão sincera, tão verdade, e foi se chegando e foi se apertando nela, que não teve escolha: acreditou, mais uma vez, a quinta.

Entra no banheiro, despe-se. A água escorre corpo abaixo, olha a espuma sumir-se no ralo. Cinco vezes, cinco vezes trouxe Clara para a sua vida, e cinco vezes foi abandonada. A culpa não poderia ser de Clara, mas somente sua, afinal, Clara era movida apenas pelos seus sins.

Enxuga-se. Olha-se no espelho, bonita ainda, tem certeza. A pele macia, os seios firmes, sorriso inteiro, cabelos vastos, tudo nela resplandecia beleza e juventude, por que então essa dependência, esse contínuo perdão às falhas de Clara? Sempre o mesmo, quase um vício, tanto dela em se deixar levar, quanto de Clara em pedir sempre um retorno, sempre uma segunda chance.

Abre o guardarroupa. Veste-se da maneira mais elegante possível. É preciso superar a dor de alguma maneira, nem que seja pela roupa. No canto, uma blusa de Clara, lembra-se do dia em que compraram. Quando voltar de noite, a blusa, as fotos, os fios de cabelo que por acaso ainda estiverem sobre a cama, tudo vai para o lixo, tudo vai sair desse apartamento. À noite.

Tenta tomar um café antes de sair. Não consegue. A garganta fecha-se diante de mais uma partida. A cadeira onde Clara costumava se sentar ainda está do jeito que ela deixou, meio de lado. Uma lágrima por sobre o rímel. Controla-se. Levanta-se. O dia de trabalho intenso à espera. É provável que, quando voltar, Clara esteja novamente sentada na porta pedindo perdão. É provável que, pela sexta vez, diga sim, pode ficar. É provável que jamais conseguirá ser de outra forma. Tranca a porta atrás de si.

Por que será que as pessoas têm de sempre acordar?

(do Anexo,AN,28/10/2009)

domingo, 25 de outubro de 2009

Meus padrinhos



Pois posso ir bancando a menina, pela vida, uma fadinha, ou assim me sinto, muitas vezes, porque tenho dois padrinhos que - vôti! - se saem com uns conselhos ou umas tiradas de ninguém botar defeito.

1. Fui à UFSC na quarta. Cheguei lá logo após as treze horas, quando terminava o Projeto Quarta 12 e 30. Encontro Scotto sentado num dos bancos ali da frente do CCE, ouvindo o Couro e Cordas, tomando um solzinho.

Já chego brigando/brincando: tou de mal, né? Não falas mais comigo, não me dás bola, é um horror o jeito como me tratas... Ele já sabe que não é sério, mas assim mesmo responde a sério, mas logo paramos com isso e começamos a falar da vida. E me queixo:

- Pô, cara! Não consigo terminar o livro do João Bosco, tem sempre algo a mais pra dizer, faltando alguma coisa, achando alguma coisa... Tou ficando desesperada! Agora fico lendo as críticas sobre o último CD, e louca pra polemizar com os caras, mesmo elogiosos, desse jeito não acabo nunca mais!

E ele:

- Tem uma frase do García Márquez, acho que está no Cheiro de Goiaba, em que ele diz assim: LIVRO A GENTE NÃO ACABA, A GENTE ABANDONA...

Sabem o que é levar uma bela bofetada (macia,linda,perfeita!) pelas guampas? Pois levei. E louca de faceira! Era bem isso, nunca vi nada mais correto, no momento mais exato.

Hoje sentei, escrevi no caderno de notas: O que falta para ABANDONAR JOÃO! E listei tudim! E não é muita coisa, não, só preciso ficar dentro daquilo, e parar de saracotear por mais coisas...

(E ainda esbanjei a mesma frase com o Dauro, que se queixava de querer ir fazendo de novo e diferente certas cenas de seu média...O que serve pra livro, serve pra filme, né não?)

2. Encontrei o Flávio José Cardozo no Espírito de Porco,ontem, e me falou de atividades conjuntas Sopé e Bulha d'arroio, ali pela região de origem. AMEI a ideia,mas estávamos ambos com agendas diversificadas. Pois esta manhã ele tirou tudo a limpo,e ainda achou tempo de me telefonar, apenas para me tranquilizar... Quer dizer: como se não bastassem os conselhos e ajudas, ainda se preocupa em não me deixar preocupada. Viva ele! Faltam só as bergamotas para ele ser o "padrinho" mais perfeito, hehehe...

Scotto, Flávio, não mereço vocês, mas sou muito, muito grata!