sábado, 12 de setembro de 2009

Manhã de sábado





Acordar bem cedinho, ouvindo barulho de chuva,de novo... Resmungos mil: já chega, já chega! Umidade pra todo lado,roupa que não seca no varal e vai ter que ir pra secadora, sapatos molhados fazendo fila do lado de fora do guarda-roupa, sombrinha pendurada no box, pra escorrer... "Enquanto durar a lestada, vai continuar chovendo. Mas este final de semana tem mudança de lua, daí o tempo melhora...", me garantiu mané da ilha, ontem. Oremus!


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Na primeira crônica que postei aqui, falo nos jambos que havia no quintal de casa, quando eu era criança. Arno Blass não perde a oportunidade e manda email:

"Ali na engenharia da UFSC tem um pé, carregadinho. Os jambos estão lindos! Mas se fores, me chama pra ir junto, porque não vais alcançar!" Abusado! Só porque tem 1,80 ou mais, tá se achando!

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O compadre Flávio José Cardozo me deu valiosos conselhos e sugestões, quando comecei a cronicar no Anexo. Daí eu chamá-lo, muitas vezes, de "padrinho". Mas também é grande gozador. Sou criatura barulhenta, e por conta do Bulha d'arroio de meu avô, virei "bulhenta".(Ser barulhenta, bagunceira e à vontade é tão característico em mim, que se entro quieta em algum lugar, nas vizinhanças, vêm logo me perguntar se estou bem...)

Criei blog sobre os escritores catarinenses, pra divulgar - embora de forma modesta - o material que tenho coletado para as antologias. E também alguns dos mais antigos. Flávio gostou, é claro, já está lá, com uma crônica, um conto, e rápida biobibliografia. E virei, pra ele, "comadre bulhenta inventadeira"...Gostei,gostei! É tão bom ser inventadeira!

E este blog é permanente. Não será tirado do ar nem mesmo se eu me encher de fazer... Espero que sirva para professores e alunos, especialmente. Quem não conhece ainda, favor dar olhadinha: http://grandesautorescatarinas.blogspot.com (link ao lado).


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Terminei o cotejo dos contos de Bulha d'arroio com a edição original. Descansei ontem, hoje escrevo análise de "Coisa Feita", de João e Aldir, e depois começo a trabalhar no glossário. E vamos em frente! Fazer o quê, com esta chuva toda...Pelo menos o trabalho rende!

Crônica do Schroeder

E parabéns, Débora e Carlos! Já tou pensando num tricozinho pro filho do Alemón!

AGORA SÓ FALTA VOCÊ

Querido(a) filho(a). Ainda não sei seu nome e muito menos o seu sexo. Isto pouco importa agora. Você têm menos de dez semanas de vida e já mudou os meus mais de trinta anos.

Quando soube de sua chegada, fiquei uns dois dias com um sentimento estranho, inédito. Primeiro pensei que fosse o susto, da notícia repentina. Depois vi que este sentimento se chama paternidade, e não passa.

É a responsabilidade constante, o amor incondicional. Agora você é apenas uma coisinha, muito pequena, na barriguinha da mamãe. Mas quero que saiba que cada beijoca que dou na ainda pequena barriga de sua mãe é um eu te amo em forma de estalo.

Enquanto digito essas poucas linhas, você está na Itália, acompanhando sua mãe numa viagem de trabalho. Estou morrendo de saudades de vocês. E que bom que vocês chegam amanhã, domingo, pois estou louco para ver a barriguinha! Eu nem sei como te fazer feliz, como retribuir a felicidade que me destes, mas prometo que vou tentar. Até recorri ao Carlos Drummond de Andrade.

“Como fazer feliz meu filho?

Não há receitas para tal.

Todo o saber, todo o meu brilho, de vaidoso intelectual vacila ante a interrogação gravada em mim, impressa no ar. “

Há alguns anos nem imaginava que um dia seria pai, agora você, meu amor, está aí, vivo, leve e solto. A vida te faz engolir tudo que diz mesmo, é a roda viva do Chico Buarque:

“A gente quer ter voz ativa, no nosso destino mandar, mas eis que chega a roda viva, e carrega o destino pra lá.”

Olha, quarta-feira que vem o papai vai para a Bienal do Livro no Rio de Janeiro, e já vai comprar os seus primeiros livrinhos, ok? Vai trazer alguns já autografados, certo? Sei que no futuro teremos muitas alegrias, algumas discussões, e que você vai querer evitar o chinelo do papai (tamanho 44). Então além dos livrinhos, vou dar um pulo numa loja que vi na internet e comprar dois bodies com estampas engraçadíssimas: “Só as crianças EMO choram” e “Cereal Killer”. Beleza?

Como diz a música da Rita Lee, que ficou um primor na voz da Maria Rita: “Agora só Falta Você”. Então venha logo, que sou um tanto ansioso e imediatista, e não sei se suporto a espera. Falando em Maria Rita, ela canta a música “Cria”, que vamos escutar muitas vezes juntos.

“Nasceu outro dia e já quer ir pro chão.

Já fala mãe, já fala pai.

Já não suja a cama.

Não quer mais chupeta.

Já come feijão.

E posso até ver os meus traços nos primeiros passos.

Tropeça e seguro e não deixo cair.

Se cai, levanta, continua.”

Filho (a), você encheu de música a minha vida.

(Anexo,AN,12/9/2009)

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Pobre guria!

Toca o telefone,ligação a cobrar, espero a identificação, pode ser Cristina.

- Mãe, mãe! Acabo de ser assaltada!

Um fiapo, de voz de moça, apavorada, mas não era Cristina, não.(E se ela for assaltada lá em Jampa, que não invente de ligar nessa hora, assim assustada, porque só vai servir para me deixar nervosa, ainda mais sem poder fazer nada! Leva o maior esporro! Depois, depois, que não sou tão desnaturada assim...)

Respondi com a voz mais calma que achei:

- Querida, estás ligando pro número errado!

E ela de novo, naquele fiapo de voz:

- Mãe! Me assaltaram, mãe!

E eu:

- Já te disse, querida, que estás ligando pro número errado!

E ela:

- Ai, mãe!

Haja saco:

- Assaltada onde?

Daí ela desligou.

Tou sem saber se foi verdade, ou se era introdução pralguma daquelas histórias de sequestro relâmpago... Uma vez me pegaram numa dessas, quando usaram meu filho, e fiquei apavorada por alguns minutos, até perceber as incongruências. Mandei tomarem...

É por essas e pelos telemarketing que ODEIO telefone! Tenho porque reconheço a necessidade, mas que é um saco, é. E daí que o "pobre guria" do título tanto serve pra ela - se for verdade - como pra mim...

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Tristezinhas na chuva


(arte de Alex Vega)

Saí ali pelas onze, levando um vidro com canja pra Adri, que está grogue duma endoscopia, e planejando ir à loja de produtos naturais atrás da de sofás, na outra esquina.

Na entrada, dou de cara com chuva molha-bobo, molha-parvo (como dizem os portugas...) e, sei lá porque, ela me trouxe, num rápido instante, como costuma fazer, a lembrança do amigo Domingos, campineiro dos bão, meu colega no mestrado de Linguística.

Estávamos em 1983, ano da primeira grande enchente, e Domingos ligava, pra falar da depressão em que estava entrando, com a chuva interminável e a TV nos soterrando sob enxurradas de desgraças, durante dias e noites.

Sem chuva, costumávamos reunir o grupo todo (Domingos, Dito, Tonha, Dora, Dóris) e passar o final de semana na casa de Cachoeira, e era uma delícia.Todo mundo se deu bem com minha família e passeávamos na praia, tomávamos batida de coco, fofocávamos um bocado, e ainda achávamos tempo e disposição pra falar do projeto de cada um...

Com chuva, e toda aquela chuva, não tínhamos como sair da cidade. Eu tinha cargo administrativo na UFSC, tinha que ir pra lá diariamente, e me juntei ao grupo que, sob o comando leve da Sidnéia, fazia cobertas e colchões, e recolhia donativos para os flagelados.

Lá conheci alguém, um amor que durou dois anos, e um dia acabou, como todo amor acaba. Engraçado é que continuamos amigos, gostamos muito um do outro,e aquilo ficou como uma lembrança bonita, porque amar é sempre bonito, ainda mais quando não há mesquinharias ou baixarias ... Que não seja imortal, posto que é chama, já se sabe.

A UFSC é lembrança também agradável do passado, não é mais parte essencial de minha vida, embora nutra por ela grande amor.

E Domingos, brilhante, culto, sensível, era gay, e morreu de AIDS, numa época em que não havia salvação pra ela... Fez doutorado nos States, voltou apaixonado por um americano, que não lhe correspondia, e sofreu pra burro, como se não lhe bastasse a doença.

O grupo todo se dissolveu, Dito em Ouro Preto,Tonha no Paraná, Dóris (que na verdade era Dores) em Mato Grosso, Dora em São Luís, e hoje só eventualmente sabemos uns dos outros. Coisas da vida.

Mas fica essa lembrança boa, este afeto permanente, na certeza de que,se nos virmos, saíremos papagueando como antes, como se nos tivéssemos visto ontem, como se não tivesse existido separação alguma.

E meu amigo Domingos, tão bom lembrar de ti, mesmo com um certo travo de tristeza, e de nossas caminhadas pelo entardecer da praia, aqueles lindíssimos pores de sol, lembrando poemas, rindo, ou mesmo em silêncio, que o momento nos bastava...

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A Adri ainda tá meio sonada do exame, mas adorou a sopa. A loja de produtos naturais não tinha a alfazema que eu buscava, mas comprei 200g de granola completa e uma deliciosa quiche de berinjela. E o pessoal que atende é muito querido, mesmo...Duas mulheres simpáticas à beça, e a dona diz que daqui a uns 15 dias deverá ter alfazema pro meu chá. Só que hoje vou procurar naquela outra loja,em frente ao Posto que era do seu Neném, logo após a rótula da PM. Chá de alfazema é relaxante, e gosto de tomar bela xícara dele, à noite, depois de um dia de muito trabalho... e litros de café!

Fade out




bateu-se a claquete
desligaram-se as câmeras
esvaziou-se o set
apagaram-se as luzes


cartazes anunciam:
seleção de extras
para a próxima produção...

Crônica de Maicon Tenfen



(Pablo Picasso: Cabeça de mulher lendo)

A leitura é uma droga

Ao longo dessa semana, visitei algumas escolas do Meio-Oeste catarinense para conversar com os alunos sobre leitura, informação e contemporaneidade. Confesso que fiquei impressionado quando perguntei quantos ali tinham o hábito de ler jornais, livros e revistas sem que o professor mandasse. A olho corrido, calculei que mais de 60% levantaram a mão. Ou mentiram ou não se fazem mais jovens como antigamente!

Fiquei jogando conversa fora com as turmas e acabei me esquecendo de falar o essencial: ler é uma droga! Quem tem um mínimo de bom senso evitará adquirir esse hábito decadente. Sim, é isso mesmo que você leu. Acho engraçado quando os professores e o governo atiçam os jovens com o mundo maravilhoso dos livros. “Ai, crianças, leiam, isso fará bem a vocês e ao país!”

Parecem traficantes aliciando menores no portão da escola. Confessei aos estudantes que a leitura não me fez o menor bem. Ao contrário. Fiquei mais inquieto, mais inconformado, mais crítico. Quem lê tende a deixar de lado o supérfluo e a enxergar o mundo com mais pessimismo. Isso causa sofrimento, quando não isolamento e até mesmo preconceito.

Quanto ao país, imagino que também não ganhou muito com campanhas do gênero “quem lê viaja!” Os argentinos têm fama de ser grandes leitores e mesmo assim elegeram Menem e o casal Kirchner. Leitura não é sinônimo de progresso ou inteligência. É apenas um vício lamentável. O livrólotra padece porque enxerga as traças com mais nitidez.

O pior é que, com o tempo, todo leitor acaba adquirindo um caráter investigativo e edipiano (nada a ver com a nomenclatura psicanalítica). Incitado pelo sábio Tirésias (os livros), o Édipo de Sófocles (o leitor) procura descobrir a identidade do infame que matou Laio (o que deseja, no fundo, é resgatar a ordem do universo). Ao fim do inquérito, Édipo fica mais confuso, e o máximo que consegue é descobrir que ele mesmo, o pior dos pecadores, assassinou o pai e desposou a mãe.

Como acontece na tragédia grega, o leitor é aquele que cria condições de enxergar sua verdadeira face, esfinge impiedosa que não hesitará em devorá-lo. Só os loucos aceitam o destino de ter os olhos furados. Os prudentes preferem ficar protegidos na sua ignorância ágrafa e inofensiva.

Aos 60% lá do Meio-Oeste que devem estar me lendo (ô gurizada imprudente!), faço a recomendação que me escapou noutro dia: renunciem à leitura enquanto é tempo. Essa viagem não tem volta.

(Variedades, DC, 10/9/2009)

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Na quarta-feira



O Inacio, lá de Jaguará, um santista filho de portugueses, procura um galo de Barcelos, pra dar de presente. Se achares por aí, pede, vê o preço e me avisa.

Achei ali no "Mãos do Brasil", lojinha de presentes em frente à loja grande de sofás. Fiz foto, pra ele ver, e a dona da loja ainda pôs um pano, pra fazer um fundo...

Lembrei que tenho um, pequeninho, pra usar em corrente, presente do Prof Lupi,da UFSC,que é português de Lisboa...

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A nota triste: o pai do Júnior morreu, atropelado por um caminhão, semana passada. O amigo, antes sempre tão alegre, anda triste que só. Fui lhe dar um abraço, quase chorou. Estive há pouco na padaria, e Arlene me contou que ontem foi a missa de sétimo dia. Dizer o quê, nessas horas?

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Mas não: este não é o galo de Barcelos que Inácio procura... Ele deseja o tradicional, pretinho...

Crônica do Rubens da Cunha



VIAGEM AO SUL DA ILHA

Um pedaço desconhecido de estrada. O mar se espumando nas pedras. As curvas silenciosas, como grandes serpentes se espreguiçando ao sol. A montanha ao fundo, algumas vezes tão verde que até dói, outras, tão maltratada que até dói. A árvore centenária debruçando-se sobre o caminho. Sombra e pássaros compondo a solidão.

Barbas-de-velho, bromélias, ervas-de-passarinho alimentando-se ao mesmo tempo em que acariciam e protegem o espesso caule da árvore. Vacas e bois pastando morro acima. Cavalos e águas dando elegância a um descampado deselegante. Barcos de pesca prontos para mais um dia. Homens do mar, com seus sotaques, seus adereços, seus endereços dignos, prontos para novamente retirarem do mar os peixes, para manterem a tradição do lugar.

Mais um pedaço desconhecido de estrada. Uma igreja secular, complexa porque é simples demais, porque é erguida apenas com a fé despreocupada de vaidades. O chão batido pelos pés de muitos visitantes e moradores. O trapiche. As pedras enormes e quentes, eternas, limpas. A última praia, a solidão sem saída, o canto mais escondido, o castelo de meninos descalços, exploradores contumazes do lugar.

A água limpa e fria, os pés molhados, os tornozelos acariciados por uma onda fresca. Inverno ainda. O corpo todo mergulhado nesse lugar é algo para o futuro, breve, alguns meses apenas. As casas diferentes, baixas, bem pintadas, cores vivas. O progresso já estuprando a inocência. Casas bonitas, arquitetadas, ricas demais. Os condomínios fechados, fechando a paisagem aos sem dinheiro.

Mais construções. Na frente do que vai ser um lugar rico a faixa: “uma praia do passado na nossa frente”. O futuro desanimador da civilização. O bar na beira da praia, a cerveja, o pastel, o tempo parado, o sotaque ritmando o lugar, dizendo que ali nasce e vive a essência. O cachorro no meio da água. Peixe canino. A tatuagem nas costas do jovem, a liberdade impressa na pele.

As barracas sobre as pedras. O homem pescando, paciência, o peixe pulando dentro da bolsa, morte, azar. Surfistas esperando ondas, ondas brincando com surfistas, dezenas. Todos emborrachados, os únicos com coragem de entrar nas águas. Surfistas e crianças: incapazes de frio. O começo de engarrafamento. Carro demais, lugar de menos.

O windsurfista ao longe, compondo sonatas mar afora. Nenhum barco maior, nenhum navio. Talvez apenas no fundo dessas águas. Fantasmas antigos dando nome e lendas ao lugar. Mais um pedaço desconhecido de estrada.

Morro acima. A vista esplendorosa. O horizonte aberto para além dos olhos. As casas de alguns escolhidos, às portas do mar. Como conseguiram? Como se estabeleceram em lugar tão privilegiado, deixando todos os outros sem privilégio? Dúvidas. Ainda há muito a ser preservado, mas pouco trabalho de preservação. Longa faixa de areia.

Mar aberto, revolto. Redimensionando os homens, dando a eles a sua dimensão ínfima. O céu limpo de nuvens, a vida limpa de tristezas. O almoço numa sorveteria. Sorvetes de chocolate e ameixa para sustentar o sonho e a perfeição de uma manhã azul e perfeita.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Bulha d'arroio




Bulha d'arroio é o livro de contos de meu avô,Tito Carvalho. Foi publicado pela primeira vez em 1939, e há duas reedições,uma pela EdUFSC, outra pela FCC. Nenhuma muito boa. A da EdUFSC nem ao menos traz o nome dele na capa, só o da autora da edição crítica... Além disso, descaracteriza completamente a apresentação. E todas as duas são edições muito feias.

O vô era de Orleans, ali no pé da Serra do Rio do Rastro. Seu tema e sua linguagem são o serrano, ou, como diz um crítico, o guachesco em Santa Catarina. É exato. Escritor regionalista, mas apenas nas horas vagas, com base em seu trabalho de jornalista documentou vida dos tropeiros, geografia, costumes. E, principalmente, seu jeito de falar.

Há anos que Flávio José Cardozo, descontente com as edições que existem, insiste comigo para que organize uma que lhe faça justiça. Ano passado,aposentadinha da silva, comecei, devagarinho, sem pressa. Afinal, sou da área, entendo de literatura e de edição, ninguém poderia fazer melhor...(palavras dele!) Meu filho, ao ser presenteado com a edição da FCC, da qual consta ainda o romance, disse exatamente a mesma coisa. E o interesse do cineasta Sylvio Back por Vida Salobra, o romance, foi mais um incentivo.

Só que, ao saber do projeto, o Lauro Junkes "se assanhou-se" todo, e me pediu pra fazer isso pra meados de outubro, a tempo de ele incluir nas publicações da Academia Catarinense de Letras (o Velho ocupou ali a cadeira no.13) para 2010. Diz ele que sou louca, porque estava redigitando conto por conto, quando poderia simplesmente escaneá-los. Mas digitar um texto faz com que ele seja absorvido de outra maneira, e se apreende vocabulário e estilo. Ao mesmo tempo, já se vai fazendo um levantamento do que precisa ser atualizado e brotam ideias para o quê e como fazer.

Tive que acelerar o processo, e há uma semana que trabalho nisso. Terminei ontem à noite, exausta e com muita dor nas costas, de tantas horas de computador. Digitava ouvindo João Bosco, pra não perder o clima, mas fiquei intoxicada de cigarro e café, hehehe...

Esta, no entanto, pode ter sido a parte mais trabalhosa, sob certos aspectos, mas não é a mais complicada. Há que estabelecer um texto-base, a partir da primeira edição, a única elaborada pelo autor. Atualizando a representação, no entanto, sem mexer no texto. Há que refazer o glossário, mantendo apenas os termos não constantes em dicionário, apenas os regionalismos "reais" - o que exige certa pesquisa linguística, felizmente facilitada pela internet.Porque existem na linguagem palavras antigas que permanecem, e que são confundidas com o falar regional. Há que conferir os termos no Houaiss, para ver se estão lá ou não... Mas vai dar tempo de eu aprontar no prazo que Lauro me deu.

O dialeto gauchesco é eivado de espanholismos, e, por sorte, encontrei, sobre isso, bom artigo de uma linguista na revista eletrônica Magna.

E de bom mesmo, a melhor coisa de todas, foi ver, nesta leitura detalhada, que o Velho era muito bom! Os contos são simplesmente lindos! E a constatação ajuda a criar coragem de enfrentar o romance. Mas este, sim, vai ser escaneado, arre égua!

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Caminhando e cantando...



Este é o mês dos amores-perfeitos...Pelo menos nos canteiros!




O prédio tem o mesmo nome da Vó Maria, mãe do Tito Carvalho. Minha bisavó, portanto.



Aqui era um terreno baldio, onde os meninos lavavam carros. Um deles, o Marquinho, filho da Marly, criado em lá em casa.

Vida



(Salvador Dalí)




os deuses se foram todos
indiferentes e vãos

em universo infundado
homem laboram:
fiapos de carne
e alma
no espinho dos dias

Amor




palavras violentam
esfriam

silêncio é prazer
terremotos profundos
sem nome

Se eu pudesse..., de Felipe Lenhart

Se eu pudesse, confesso que me dava o direito de deixar em branco este espaço que me cabe no caderno Variedades de hoje. Ainda melhor que isso somente se houvesse a possibilidade técnica de trocar o texto que porventura eu apresentasse por uma mancha preta que ocupasse toda a coluna aqui no canto da página, de alto a baixo, nesta segunda-feira de feriado nacional e tédio invencível.

Se eu pudesse, pedia aos meus editores, que me leem antes dos outros, uma folguinha de um dia, um descanso não remunerado de 24 horas, um refresco em meio às vicissitudes do início desta semana trovejante, apenas para que eu não precisasse me explicar, me esforçar, me contorcer em busca de uma crônica com membros, tronco e, principalmente, cabeça. Porque, se eu pudesse, garanto que ficaria em silêncio.

Se eu pudesse, a verdade é que hoje eu nem saía nem de dentro de casa, permanecia aqui meio escondido, meio aflito, meio resfriado, meio dolorido, meio perdido no tempo e no espaço, soçobrando na ressaca da história. Melhor ainda: ficava no quarto, deitado na cama, olhando filmes na televisão, lendo revistas, jornais e livros, curando do buraco no estômago que o refluxo ajuda a cavar. Todo esse esforço dispersivo para não ter de se refugiar na caverna da memória.

Mas a vida não permite tais ficções, nem a realidade combina bem com o sonho, o desvario que eu gostaria que se manifestassem hoje – a vida e a realidade impõem que se siga adiante sempre, apesar dos tropeços, dos erros e mesmo das vitórias.

Portanto, hoje terei de acordar, vestir-me, comer, ler os jornais, olhar lá fora pela janela, assistir aos telejornais do meio-dia, almoçar sem pressa, ouvir no rádio os debates esportivos ainda sobre a vitória do Brasil na Argentina e a classificação à Copa do Mundo, dormir a sesta, despertar renovado, ler um livro, sair para caminhar, fazer exercício físico, ser surpreendido pelo crepúsculo, ver chegar a noite...

Mas não tem jeito: na hora de dormir, o bode falante se deitará ao pé da cama. Ele dirá que está ali para me ajudar, pois se alimenta das más recordações que frustraram algo maior e mais bonito. Para não me deixar sozinho, virá me visitar toda noite, até que acabe a comida indigesta de que tanto gosta. Aí, me deixará, porque estarei em paz.

Se eu pudesse, hoje seria 7 de setembro de 2010, e o bode há muito teria morrido de fome.

(Variedades, DC,7/9/2009)

domingo, 6 de setembro de 2009

Havia jardins, naquele tempo...



"Havia manhãs, havia jardins, naquele tempo!" diz o poema de Drummond.
E uma rosa amarela entre amores-perfeitos, num jardim de hoje, aleluia!