terça-feira, 8 de setembro de 2009

Bulha d'arroio




Bulha d'arroio é o livro de contos de meu avô,Tito Carvalho. Foi publicado pela primeira vez em 1939, e há duas reedições,uma pela EdUFSC, outra pela FCC. Nenhuma muito boa. A da EdUFSC nem ao menos traz o nome dele na capa, só o da autora da edição crítica... Além disso, descaracteriza completamente a apresentação. E todas as duas são edições muito feias.

O vô era de Orleans, ali no pé da Serra do Rio do Rastro. Seu tema e sua linguagem são o serrano, ou, como diz um crítico, o guachesco em Santa Catarina. É exato. Escritor regionalista, mas apenas nas horas vagas, com base em seu trabalho de jornalista documentou vida dos tropeiros, geografia, costumes. E, principalmente, seu jeito de falar.

Há anos que Flávio José Cardozo, descontente com as edições que existem, insiste comigo para que organize uma que lhe faça justiça. Ano passado,aposentadinha da silva, comecei, devagarinho, sem pressa. Afinal, sou da área, entendo de literatura e de edição, ninguém poderia fazer melhor...(palavras dele!) Meu filho, ao ser presenteado com a edição da FCC, da qual consta ainda o romance, disse exatamente a mesma coisa. E o interesse do cineasta Sylvio Back por Vida Salobra, o romance, foi mais um incentivo.

Só que, ao saber do projeto, o Lauro Junkes "se assanhou-se" todo, e me pediu pra fazer isso pra meados de outubro, a tempo de ele incluir nas publicações da Academia Catarinense de Letras (o Velho ocupou ali a cadeira no.13) para 2010. Diz ele que sou louca, porque estava redigitando conto por conto, quando poderia simplesmente escaneá-los. Mas digitar um texto faz com que ele seja absorvido de outra maneira, e se apreende vocabulário e estilo. Ao mesmo tempo, já se vai fazendo um levantamento do que precisa ser atualizado e brotam ideias para o quê e como fazer.

Tive que acelerar o processo, e há uma semana que trabalho nisso. Terminei ontem à noite, exausta e com muita dor nas costas, de tantas horas de computador. Digitava ouvindo João Bosco, pra não perder o clima, mas fiquei intoxicada de cigarro e café, hehehe...

Esta, no entanto, pode ter sido a parte mais trabalhosa, sob certos aspectos, mas não é a mais complicada. Há que estabelecer um texto-base, a partir da primeira edição, a única elaborada pelo autor. Atualizando a representação, no entanto, sem mexer no texto. Há que refazer o glossário, mantendo apenas os termos não constantes em dicionário, apenas os regionalismos "reais" - o que exige certa pesquisa linguística, felizmente facilitada pela internet.Porque existem na linguagem palavras antigas que permanecem, e que são confundidas com o falar regional. Há que conferir os termos no Houaiss, para ver se estão lá ou não... Mas vai dar tempo de eu aprontar no prazo que Lauro me deu.

O dialeto gauchesco é eivado de espanholismos, e, por sorte, encontrei, sobre isso, bom artigo de uma linguista na revista eletrônica Magna.

E de bom mesmo, a melhor coisa de todas, foi ver, nesta leitura detalhada, que o Velho era muito bom! Os contos são simplesmente lindos! E a constatação ajuda a criar coragem de enfrentar o romance. Mas este, sim, vai ser escaneado, arre égua!

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