sábado, 3 de outubro de 2009

Crônica do Schroeder

O ANO POE

Na dia 7 de outubro, algumas cidades norte-americanas e fã-clubes do mundo todo renderão homenagens a um dos escritores mais emblemáticos e populares do globo: Edgar Allan Poe. Para promover Poe, nenhuma cidade consegue competir com Baltimore, que batizou seu time de futebol de “Ravens” (corvos) em homenagem ao autor. A cidade também tem uma tradição: todos os anos um visitante misterioso deixa meia garrafa de conhaque e três rosas vermelhas no seu túmulo. E para não deixar em branco a data dos 160 anos da morte do autor, na próxima quarta, a cidade de Baltimore encena o funeral do autor.

Nascido em Boston, em 19 de janeiro de 1809 e falecido em 7 de outubro de 1849, o poeta, romancista, crítico literário e contista escreveu clássicos góticos que ainda encantam gerações, além de praticamente inaugurar o gênero policial.

Poe foi muito mais do que um escritor. Há em suas “Histórias Extraordinárias” um teor filosófico, uma reflexão moral, que poucas obras atingem. Poe, em certos aspectos, foi um precursor de Freud, pois diagnostica os males que o racionalismo causa à razão, sobretudo ao trabalhar com princípios inflexíveis, com uma lógica que não leva em conta as esquivas intenções humanas. Não espanta que tenha influenciado Machado de Assis (em contos como “A Causa Secreta”). Jorge Luis Borges acreditava que “a literatura atual seria inconcebível sem Whitman e sem Poe”. E não seria mesmo.

E não somente sua obra era imersa em mistério, mas sua vida também. No dia 3 de outubro de 1849 o escritor foi encontrado nas ruas de Baltimore, com roupas que não eram suas, delirando. Levado para o hospital, morreu quatro dias depois. Nunca foram apuradas as causas precisas de sua morte. Um destino trágico para uma vida trágica.

Segundo filho de David Poe e Elizabeth Arnold, ambos atores, o autor ficou órfão ainda criança, e foi adotado por um casal rico, Jonh Allan e Frances Kelling Allan. Isso lhe permitiu ter uma educação de qualidade, bem como fazer uma longa viagem pela Inglaterra, Escócia e Irlanda, com os pais adotivos.

Regressou aos Estados Unidos em 1822 e continuou seus estudos sob a orientação dos melhores professores da época. Dois anos depois, entrou para a Universidade de Charlotesville, e seu temperamento inquieto o levou a ser expulso da escola.

Depois de algumas viagens além-mar, retorna a seu país em 1829, com o desejo de seguir a carreira militar. Admitido na célebre Academia de West Point, foi expulso poucos meses depois, por indisciplina.

Vence os concursos de conto e poesia promovidos pela revista “Southern Literary Messager”, e o fundador da publicação, Thomas White, convida-o a dirigir a revista. Durante dois anos, Poe ficou a frente do periódico.

Estabelecido financeiramente, Poe casa-se com Virginia Clemm, e pouco tempo depois o diretor da revista o demite (alcoolismo e indisciplina).

Passa a produzir como “free-lancer”, mas sem muito sucesso, o que o levou a afundar-se ainda mais na bebida. A morte da mulher (tuberculose) agravou o problema. Algum tempo depois, ele morre, não sem deixar em alguns poemas a inquietude do gênio belo e maldito: “Desde criança eu não fui / como os outros foram / e não vi / como os outros viram (...) Tudo o que amei, só eu amei (...)”

(Anexo, AN, 30/10/2009)

Crônica do Fábio Brüggemann

A nau do saber pede socorro

Livros são armas perigosas para os governantes, porque fabricam cidadãos inteligentes, e estes não votam em gente sem escrúpulos. Político gosta mesmo é de asfalto, e a maioria odeia livros. Como não existe uma política de Estado para a cultura, e muito menos para o livro, a Ilha de Nossa Senhora dos Aterros vive à míngua no que se refere a essas questões.

Prova disso é que não existem bibliotecas públicas municipais na cidade. A única municipal, e não vale contar as das escolas públicas, porque são delas, fica no continente, e pertence, pasmem, à Secretaria de Obras. Sim senhores, é desse modo que esses caras veem os livros. Não me admirarei o dia em que, para recapar a Beira-Mar pela centésima vez (porque pra essa gente, asfalto bom é asfalto que se deteriora logo) usarão os livros da biblioteca Barreiros Filho junto com piche.

A única biblioteca pública da cidade fica na Lagoa. É pública porque é aberta, mas não é no que se refere à administração. A Barca dos Livros, que fica ali no trapiche, é ideia de cidadãs que trabalham de graça para manter o espaço navegando.

Tânia Piacentini, uma das idealizadores, lançou nessa semana um manifesto pedindo socorro para que o espaço e o acervo maravilhoso de que dispõe literalmente não naufrague. A nau do saber é mantida pela Sociedade Amantes da Leitura, e existe desde 2007. O problema é que manter um espaço aberto, e gratuito a todos, só com paixão pelo livro não resolve. De vez em quando a Barca consegue emplacar um projeto nas leis de incentivo, mas não dá para mantê-la sem um comprometimento efetivo e permanente do poder público. Afinal, é dever do Estado o incentivo à educação e à cultura.

Uma média de1,8 mil pessoas passam por lá todo mês, tanto para ler ali mesmo quanto para pedir livros emprestados. Em um ano, a Barca emprestou quase 20 mil livros.

Uma cidade que pretende ser referência turística deveria ter, pelo menos, uma biblioteca pública em cada bairro. Mas aqui na Ilha, parece até ridículo ter que pedir apoio público para o funcionamento de uma que é referência, que dirá pedir pela a abertura de novas. Desse modo, em breve, seremos a Capital do mangue ocupado, do patrimônio destruído, do asfalto podre, menos a de uma cidade de leitores, o que seria o sonho ideal.

(Variedades, DC, 3/10/2009)

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Outra vez o sol!


(Norman Rockwell)

Logo depois do almoço fui até o Santa Mônica pagar o Koerich (que maravilha é ter um Koerich ali e eu não precisar mais ir até o Shopping Beiramar!). Depois do frio de ontem, um calor exagerado. De repente uma lufada de vento, e vem do sul: bem capaz de esfriar de novo...

A menina e a mãe vêm na direção contrária, de frente pra mim. A menina é obesa, a camiseta do uniforme suja do que parece chocolate. A mãe lhe passa sermão sobre "pecado mortal", e não quero acreditar em meus ouvidos: ainda existe gente que acredite numa bobagem dessas, e - pior! - use isso pra infernizar uma criança? A menina ergue pra mim os imensos olhos castanhos cheios de culpa, e eu, também sempre tão gorda, lembro do livro da Cíntia Moscovich: Mamãe, por que sou gorda? ( Se pudesse, mataria aquela mãe com requintes de sadismo, podem crer!)

* * *

Um carro não dá sinal e entra, em cruzamento sem sinaleira, e o motorista olha pra mim com ar furibundo. Faço pra ele sinal de pisca-pisca com a mão, mas louca pra lhe mostrar o dedo médio. Se me atropelasse, diria que tinha sido minha culpa... Mas na faixa seguinte faço as pazes com os motoristas todos: uma guria, a três ou quatro metros da faixa, resolve atravessar no meio dos carros... O motorista de um, aproveitando uma pequena parada, conversa com o companheiro ao lado.E, quando vai dar partida, ela ali na sua frente. O rapaz ficou branco...e com razão. Pior: a faixa dava direto na entrada da loja para onde ela ia. Como vivia dizendo papai: o que mais tem no mundo é basbaque!

* * *

Passo no café e Ana não está. Eu tinha dito que hoje passava lá pra bater papo com ela. Mas tou morrendo de calor, cansada, Emanuel diz: oi, minha amiga! E Juliana vai chegando pra trabalhar: o Jorge atende pela manhã, e ela à tarde e à noite. Sento, peço meu cafezinho, fico folheando as ofertas da Koerich, só pra saber... E saio deixando recado: Manu, diz pra tua mulher que venho amanhã de novo!

* * *

Anotei no caderno as ervas que se põe num pão aux fines herbes: 1 colher de sopa de orégano, 1 colher de sopa de fines herbes, 1 de chá de alecrim seco. Fiz minha receita habitual de pão, com essas ervas. Ficou cheiroso que só!
E não, não é no sabor que influi, é neste perfume, mesmo. Gostei, gostei!

* * *

Entro nas galegas, antes de vir embora, pra comprar o fermento biológico, e o Osni está lá dentro. Somos fregueses tão antigos, e também dois bagunceiros tão grandes, que todo mundo entra na farra, vira uma barulheira, muita risada, muita gozação. Acho que alegramos o dia das galegas... E o nosso, também, tá na cara!

Crônica do Olsen

HAPPENING CULTURAL

Aconteceu no 3º Encontro de Academias de Letras em Orleans. Estava na recepção do hotel, quando ela chegou acompanhada de outras pessoas. Loira de olhos verdes. Enquanto conversam ao balcão, pego o jornal e me acomodo num sofá em frente ao elevador. Algumas mulheres, às vezes, saem das capas das revistas e dão o ar de suas graças no mundo real. Era o caso.

Veste uma roupa preta e calça uma bota de cano alto. Quero ler, mas não consigo tirá-la da cabeça. Logo, o grupo se aproxima para pegar o elevador, lota, e ela tem de esperar. Comento em voz alta que parece ser o nosso destino esse, o de esperar, porque sempre estamos esperando alguma coisa.

Ela abre um sorriso e afirma “é verdade” e permanece calada até o elevador chegar, depois, é engolida pela parede e não consigo pensar em nada a não ser naqueles green eyes.

Durante o café, junto com os escritores Celestino Sachet, Pinheiro Neto, Flávio José Cardozo, Artêmio Zanon e Lauro Junkes, acompanhado da mulher Dona Terezinha Junkes, eu havia indagado ao professor Sachet se ainda perguntavam em suas palestras sobre o que era a literatura catarinense. Ele me olhou com ar zombeteiro e disse: “Claro, e é bom que continuem perguntando, porque senão perco o meu emprego” (risos).

Naquela manhã, Lauro Junkes falou sobre o panorama da literatura catarinense dos anos 80 até Hoje. Foi muito aplaudido, afinal, não era para qualquer um fazer aquele resumo abrangente e detalhando as principais obras de cada autor em tão pouco tempo.

No café da tarde, encontrei a “Fa”, os amigos a chamavam assim, como uma nota musical, mas preferi o Green eyes e lhe servi o café com leite, e ela agradeceu e pude olhar lá no fundo daqueles dois pontos verdes luminosos... Era estarrecedor.

A Câmara de Vereadores fez uma sessão no local e condecorou o Lauro Junkes com o título de cidadão orleanense. Foi uma surpresa grata.

À noite, durante o jantar, um conjunto com nove figuras enxerta percussão em clássicos do cancioneiro sertanejo. Depois da quarta música, vejo o desconforto do Flávio José Cardozo e pergunto: “O que houve Flávio, não está gostando”? Ele me olha certo de que estou debochando e diz “Até gosto, se o acompanhamento fosse só violão, mas assim, não vejo a hora de chegar o intervalo... Ou será que eles não vão descansar um pouco?” (risos).

Pedi para o garçom levar uma taça de champanhe para Green eyes. Ela mandou dizer que não bebia, mas iria fazer uma exceção naquela noite. Foi até a mesa me agradecer, depois se afastou. Valia tudo para ver aqueles olhos, my god!

No hotel, havia um show musical. Era vanerão dos brabos, mas green eyes estava lá e tivemos de suportar. Fui com o Pinheiro Neto e sentamos perto da pista. Green eyes nos viu, se aproximou e me pediu para dançar com ela. Nessas horas, pensei, trocaria a profissão de escritor por dançarino, se pudesse, mas não podia, então, agradeci e disse que ela estava se saindo maravilhosamente. Ela sorriu e vi aqueles olhos brilhando, coisa de louco.

No dia seguinte, foi à vez do Artêmio Zanon falar das terras dos condes até a Academia Orleanense de Letras, cantou o soneto “O Gato” em ritmo de cantos gregorianos e leu um poema de Júlio de Queiroz, foi muito aplaudido.

Sachet falou sobre a italianidade, uma tendência temática da literatura catarinense da região Sul, com humor e encantou os ouvintes.

No começo da tarde, tivemos de ir embora. Não assistimos à palestra sobre o lírico amoroso, o social e o cotidiano, de Green eyes, que, soubemos, foi muito prestigiada.

Na metade da viagem para casa, digo para o Pinheiro Neto que deveríamos voltar até Orleans... “Voltar para quê?”, ele pergunta curioso. “Que mais não seja”, respondo, “só para nos despedir de Olhos Verdes”.

(Anexo,AN - 2/10/2009)

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Catavento e girassol



E é o dr.dentista Guinga ao violão!

Catavento e Girassol
(Guinga e Aldir Blanc)

Meu catavento tem dentro
O que há do lado de fora do teu girassol
Entre o escancaro e o contido
Eu te pedi sustenido
E você riu bemol
Você só pensa no espaço
Eu exigi duração
Eu sou um gato de subúrbio
Você é litorânea
Quando eu respeito os sinais
Vejo você de patins
Vindo na contra-mão
Mas, quando ataco de macho
Você se faz de capacho
E não quer confusão
Nenhum dos dois se entrega
Nós não ouvimos conselho:
/Eu sou você que se vai
no sumidouro do espelho/

Eu sou do Engenho de Dentro
E você vive no vento do Arpoador
Eu tenho um jeito arredio
E você é expansiva
(o inseto e a flor)
Um torce pra Mia Farrow
O outro é Woody Allen...
Quando assovio uma seresta
Você dança, havaiana
Eu vou de tênis e jeans
Encontro você demais:
Scarpin, soirée
Quando o pau quebra na esquina
Você ataca de fina
E me ofende em inglês:
É fuck you, bate-bronha
E ninguém mete o bedelho:
/Você sou eu que me vou
No sumidouro do espelho/

A paz é feita no motel
De alma lavada e passada
Pra descobrir logo depois
Que não serviu pra nada
Nos dias de carnaval
Aumentam os desenganos:
Você vai pra Parati
E eu pro Cacique de Ramos
Meu catavento tem dentro
O vento escancarado do Arpoador
Teu girassol tem de fora
O escondido do Engenho de Dentro da flor
Eu sinto muita saudade
Você é contemporânea
Eu penso em tudo quanto faço
Você é tão espontânea!
Sei que um depende do outro
Só pra ser diferente
Pra se completar
Sei que um se afasta do outro
No sufoco somente pra se aproximar
Cê tem um jeito verde de ser
E eu sou mais vermelho
/Mas os dois juntos se vão
No sumidouro do espelho/

Coração agreste



Em tudo que achei sobre Aldir, esta canção se chama "Coração Agreste", o que torna o titulo muito mais abrangente e mais bonito. Mas se Fafá rebatizou como "do Agreste", dá pra entender, né? É como ela consegue assimilar... Afinal, foi feita para Tieta do agreste.


Coração agreste

(Aldir Blanc e Moacyr Luz)

Regressar é reunir dois lados
À dor do dia de partir
Com seus fios enredados
Na alegria de sentir
Que a velha mágoa
É moça temporã
Seu belo noivo é o amanhã
Eu voltei pra juntar pedaços
De tanta coisa que passei
Da infância abriu-se o laço
Nas mãos do homem que eu amei
O anzol dessa paixão me machucou
Hoje sou peixe
E sou meu próprio pescador
E eu voltei no curso
Revi o meu percurso
Me perdi no leste
E a alma renasceu
Com flores de algodão
No coração do agreste
Quando eu morava aqui
Olhava o mar azul
No afã de ir e vir
Ah! Fiz de uma saudade
A felicidade pra voltar aqui

Aprendendo Aldir



SEI como é o João letrista, sei até demais. Daí o problema cientificamente posto é: que impacto traz a participação de outro letrista, ainda mais tão OPOSTO a ele, em termos de tudo, como Aldir?

Pra poder responder adequadamente, mergulho em Aldir. Analisando, inclusive, se ele apresenta diferenças na produção com outros músicos, especialmente com aquele com quem tem trabalhado mais, que são Guinga e Moacyr Luz.

Mas o danadim tem mais de 600 composições gravadas. Tá na cara que não vou procurar todas, só uma amostragem. Já tenho uma hipótese, é claro. Não, não conto, ou perde a graça! (Mas está sendo confirmada pelo que tenho visto até agora...)


quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Os dois Joões



Não Sei Como Foi
João Donato e Lysias Ênio


Não sei se foi
A canção de amor que entrou no ar
Não sei se foi o luar que deitou lá no céu
Se foi a onda do mar que quebrou meu coração
Se foi meu sorriso ou o toque precioso da mão

Só sei que foi
foi só pedir a quem se entregava assim
Depois tomar
O que eu já te dava de mim
Como entender as surpresas que o amor de repente nos faz
Foi só sentir o teu rosto tão perto demais

Bis

E o teu beijo com gosto de quero mais
Foi só sentir o teu corpo e cair pra trás
Não sei se foi a canção...

Um tesouro escondido

Manhã de bentevis



Uma manhã de sol, depois de tanta chuva, com previsão de mais, e a gente se põe na maior disposição... Fiz faxina na sacada, cuidei das 'prantinha' e deixei o piso secando. Fui até o Posto de Saúde, ao lado do Titri, colher informações sobre o Grupo Antibagismo (bem dizia Mark Twain...)(Me sinto o próprio Zeno, do livro do Svevo!). Me atendeu rapaz gentil, o grupo existe, sim, mas é concorrido, tem fila de espera. E tem que ter carteirinha do SUS. Tudo bem, eu faço. Volto à tarde - tem que levar comprovante de residência, pra provar que mora na Trindade.

Na volta parei no Desterro Café, bati papo, tomei meu sagrado cafezinho com leite. Dali, paradinha na Papelaria: preciso de um favor, mas pago por ele. Preciso de sacola daquelas bem grandes, pra ajeitar os vidros vazios de conserva lá pro amigo do sítio. A moça foi buscar:
- De quantas a senhora precisa?
- Duas dá. Se precisar de mais alguma, volto aqui...Quanto é?
Ela ri, e se vira pro rapaz que atende junto com ela:
- Acho que dez reais cada uma!
E eu, fazendo cara de emburrada:
- Não quero mais!
Paramos de rir e ela finaliza:
- Pra senhora, nada!
A Arlene,aposentada do Inglês, minha vizinha, olhava uma vaquinha de pelúcia, intrigada:
- Isso aqui é uma vaca, mesmo?
A moça vem explicar que não só é uma vaca, como também fala. E liga a vaquinha, e depois os sapos, porque eu olhava os sapos, e fica uma farra barulhenta lá dentro...

Passo 2: Padaria. Mesmo jeito, mesmo pedido. O Júnior tava lá, fiquei bem contente, faz tempão que não via a criatura. Gil me arranja duas sacolonas, e pergunta pro chefe quanto cobrar por elas. A resposta é igual:
- Pra ela, nada.
E neste momento entra Samuca:
- Júnior, me arranja um cigarrinho?
Malino que só ele, Júnior diz:
-Só se o Toninho deixar! (Toninho é o dono do açougue ao lado).
Samuca sai zunindo e me zango com o Júnior:
-Toninho é antitabagista ferrenho, até se recusa a vender cigarros... Sabes bem que ele vai dizer que não!
Nisso Samuca volta:
-Toninho disse que pode!
E nós caímos na gargalhada:
-De bobo não tem nada!
(E é claro que Samuca ganhou seu cigarrinho...)

Este vidro com pedras daí de cima é presentim pro Inacio Carreira, amigo gigante de Jaraguá, que costuma levar pedras de lembrança dos lugares que visita. Duvido que, depois de algum tempo, ele se lembre que pedra é de onde, mas fui juntando aqui pelas vizinhanças, pondo dentro do vidro, só pra "atentar"... Ficou bonitinho, não ficou?

Esta semana tou nos braços do Aldir Blanc, pesquisando letras pra outros parceiros, mas antes de voltar pra ele, vou fazer faxina no banheiro. As toalhas,os pisos e o tapete já estão no varal, lavadinhos e cheirosos, falta dar aquela limpada em regra no dito cujo. Me dêem licença, que preciso aproveitar o sol!

Esta João não gravou!



COMADRE,de João Bosco e Aldir Blanc,porque tou estudando Aldir.

E vamos agitar, porque a "comadre" evém!

A LETRA:

Em tudo que me acontecer
O dedo da comadre tá
Na corda quando escurecer
Anágua da comadre tá

Branco de doer
Me convidando a imaginar
Se o vento bater
A ginga que a comadre dá

A ginga da comadre tá
Em tudo que me acontecer
No copo em que eu me embriagar

Se relampejar, se eu adoecer
Se a febre aumentar
A comadre evém, evém, evém

Na palha em que eu adormecer
Nas águas em que eu me lavar
E na pitanga que eu morder
Na arapuca que eu armar

Onde eu me esconder
Em tudo quanto eu puder olhar
No que ouvi dizer
A ginga que a comadre dá

No samba que eu me exceder
No doce que eu me lambuzar
Na hora que eu endoidecer

Se o sangue espirrar
Se a ferida arder
Se a boca chupar
A comadre evém, evém, evém

Crônica de Amilcar Neves

Tegucigalpa

Resolvo desprezar o onisciente e caótico Google, bem como a verborrágica e desproporcional Wikipedia, e partir para vetustas publicações em papel. Por que fazer isto? Talvez só pelo prazer de manusear por todos os lados textos físicos, palpáveis, e empilhar livros abertos sobre mesas e cadeiras.

Tegucigalpa carrega a sonoridade harmoniosa e incomparável de todas as palavras verdadeiramente americanas, isto é, pré-colombianas. Desde 1880 capital de Honduras, “segundo país da América Central em superfície e o mais montanhoso”, situada a 975 metros de altitude, “a cidade surgiu do antigo povoado de Cerro de Plata, que é o significado de seu nome atual na língua dos nativos locais” (Povos & Países, 1974). “Fundada em 1578, sua origem está ligada às descobertas das minas de ouro, prata e cobre” (Enciclopédia Barsa, 1969) pelos espanhóis na região.

Como quase todos os países centro-americanos, no entanto, Honduras nunca teve uma convivência muito íntima e prolongada com a democracia, o que dificulta, por desconhecimento, a valorização de tal sistema de governo. A partir da independência, em 1838, “uma ininterrupta sucessão de caudilhos dominou o país no restante do século 19” (Nova Enciclopédia Ilustrada Folha, 1996). Sua História recente é essa: “1907: intervenção norte-americana; 1925: guerra civil; 1925-80: ditaduras militares” (Enciclopédia Compacta de Conhecimentos Gerais, 1995).

Assim, fica mais fácil entender como o deputado Roberto Micheletti, presidente do Congresso, conseguiu a aprovação célere da lei casuísta de que se valeu a Corte Suprema para pressionar Manuel Zelaya, presidente constitucional do país desde 2006. O problema é que Zelaya, do Partido Liberal, foi eleito por uma coligação de centro-direita mas fazia um governo de esquerda (aumentar salário mínimo é tido como coisa da esquerda).

Pura ilegalidade: sem processo de impeachment, Zelaya é sequestrado durante a madrugada por militares armados e mascarados, retirado de casa ainda de pijama, enfiado num avião e despachado para a Costa Rica. No mesmo dia, Micheletti, que perdera a indicação do mesmo Partido Liberal para as eleições deste ano, logra finalmente seu objetivo e, com o golpe, assume o poder.

Três meses depois de sair à força, “o presidente deposto volta de forma clandestina para Honduras e refugia-se na embaixada do Brasil em Tegucigalpa” (IstoÉ, 2009).

(DC,Variedades,30/9/2009)

Crônica de Rubens da Cunha

ALICE

É o primeiro dia de Alice na escola. Tem 72 anos. Olha tudo meio nervosa, achando que seu tempo passou, que aquilo tudo é bobagem da neta. Cumprimenta os outros, a professora a recebe com cuidado. Alice está diante de algo que nunca esteve: um quadro-negro, uma professora, cadernos, lápis, borracha e amigos de escola.

Alice nunca soube bem porque não aprendeu a ler nem escrever. A vida no cantão onde vivia, a escola muito longe, pai e mãe analfabetos, teve de trabalhar desde cedo, cuidando dos irmãos, da casa, dos bichos. A vida era simples e boa, depois Alice cresceu, conheceu Armindo, e se casou com ele, depois vieram os filhos e Alice foi ficando na sua vida de só cuidar dos outros e se esquecendo um pouco de si. Era feliz, sabia bem até onde a vida podia ir, e a vida andava como Deus queria, pelo menos era assim que Alice pensava, mas o tempo passou, a energia elétrica chegou ao seu lugar, a cidade pareceu ficar mais perto, coisas modernas vieram, chuveiro elétrico, máquina de lavar, televisão. Alice olhava aquilo tudo com certo medo, medo de não saber usar aqueles aparelhos e de ela mesma ser substituída por um deles, medo de não ser mais a cuidadora de tudo.

Algum tempo depois, o marido faleceu, os filhos já tinham vindo para a cidade e trouxeram a mãe. Ela não gostava do barulho daquilo tudo, “sou bicho do mato”, sempre dizia. A cidade lhe parecia muito grande, muito ligeira, e tinha todas essas letras, tudo tinha de ser lido. Era a tristeza de Alice: vir para a cidade e não conseguir ser livre, até para ir à igreja tinha certo receio. Lá no seu lugar sabia se virar, não dependia de ninguém para fazer as coisas, mas aqui, nesse mundão de concreto e asfalto, não pode ir a lugar nenhum sem ter de ficar pedindo informações, essa vergonha que só quem não sabe ler sabe dizer bem direitinho o que é. Aquilo tudo estava fazendo de Alice uma pessoa reclusa. Ficava muito mais tempo em casa do que o normal, quem percebeu melhor isso foi a neta mais velha. Com um pouco de conversa, descobriu que o “mal” da avó era não saber ler nem escrever, ficar feito barata tonta no meio das pessoas. A neta então providenciou tudo e matriculou Alice na escola.

Ao sair do primeiro dia de aula, a neta cá fora esperando, viu no rosto da avó uma iluminação diferente. Ela veio rindo, havia se instalado naquele corpo cansado de mulher uma esperança bem descansada, bem pronta para tudo de novo.

A cada avanço, um novo sorriso no rosto: as primeiras letras, sílabas, o nome, o primeiro texto lido com calma, a voz trêmula, os dedos acompanhando as linhas. Alice, aquela que sempre cuidou de tudo, cuida agora de si mesma com uma alegria gigante. Esses dias, o neto lhe perguntou naquele jeito adolescente de falar: “E aí vó, tá lendo tudo”? Alice, adolescentemente, respondeu: “Tô lendo tudo, tô lendo até o futuro”.

Dedicado a minha avó, Alice, que era analfabeta. À professora Silana Dias e suas alunas da terceira idade. A todas as pessoas que ainda não desistiram.

(AN,Anexo,30/9/2009)

As novas do tempo


(Diego Redel,DC)

Períodos de tempo seco devem ser curtos nos próximos meses em SC, segundo especialista

Fenômeno El Niño intensifica condição de chuva na região Sul

Com a influência do fenômeno El Niño em Santa Catarina, os períodos de tempo seco não devem ser longos nos próximos meses no Estado, segundo o meteorologista Leandro Puchalski, da Central RBS. Ele participou de um chat com internautas na manhã desta terça-feira.

— Eles vão existir, mas sempre intercalados por chuva, às vezes forte, às vezes fraca — disse. Puchalski afirmou ainda que é cedo para prever se o verão será chuvoso, pois depende da permanência ou não do El Niño (...)

(DC de hoje)

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Mais chuvas e ventos e frio...



Minha querida Jaraguá também está com problemas... Aí na foto é rio Garibaldi.
(Do AN-Jaraguá)

58 municípios atingidos, e a previsão pra hoje centra as chuvas em Floripa e no litoral norte...

Ontem conversei, al teléfono,com alguém em Porto Alegre que me dizia que quem mora muito perto do Guaíba perdeu a casa...

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Com Aldir


(UOL)

E eu não tinha visto!



Foi o Arno Blass que teve a gentileza de mandar, do UOL, traduzido, datado de hoje. Fui conferir, saiu no El País dia 22/9 - decerto um dos raros dias em que não entrei...

"He dejado de existir para que surja la música"

FRANCHO BARÓN - Río de Janeiro - 22/09/2009


Cae la tarde en los bosques tropicales de Tijuca, que se extienden como un manto por los cerros de Río de Janeiro, y en la casona de João Bosco de Freitas Mucci, João Bosco, (Ponte Nova, Minas Gerais, 1946) suenan, como un susurro, los acordes de una vieja canción. En el silencio de un salón parco en ornamentos, João acaricia, pensativo, las cuerdas de una guitarra de solera fabricada especialmente para él por el lutier japonés Shiguemitsu Suguiyama. No es una guitarra cualquiera: el instrumento pone música a los discos y recitales del intérprete brasileño desde 1981. Y se nota en los sonidos que brotan de la caja acústica, incisivos y envolventes.

En julio, João lanzó en Brasil su último trabajo con doce temas inéditos. Un disco que hasta en su título llega cargado de misticismo metafísico: Não vou pro céu, mas já não vivo no chão (No voy al cielo, pero ya no vivo en la tierra). El compositor de clásicos como Papel maché o O bêbado e a equilibrista retoma después de 20 años el tándem con el letrista y poeta carioca Aldir Blanc, que rubrica la letra de cuatro canciones. "Sólo una de las colaboraciones con Aldir Blanc, Navalha, ya vale todas las celebraciones posibles ante este esperado retorno del dúo", certifica el poeta Eucanãa Ferraz. "No volvimos sólo para hacer música. Volvimos a ser amigos. Almir Chediak, que en aquella época estaba trabajando en un songbook sobre mi obra, el último que produjo antes de fallecer, invitó a Aldir para grabar O bêbado e a equilibrista. En aquella grabación, después de tantos años sin vernos, percibimos que estábamos hablando como si nada hubiese ocurrido y que nuestra amistad era indestructible. Poco después, Aldir me telefoneó para decirme que había soñado conmigo: en su sueño yo cantaba una samba. Cuando se despertó cogió un bolígrafo e intentó transcribir la letra. De esta manera surgió la letra de Sonho de Caramujo, que contiene el título de este disco", desvela João.

En este trabajo, quizá el más intimista y personal de su carrera, el intérprete y compositor también se sumerge por primera vez en una colaboración artística con su hijo Francisco, que ha puesto letra a cinco temas. "El título del disco tiene mucho que ver con la poética que han aportado Aldir Blanc y Francisco Bosco, que sin coordinarse han trabajado con una afinidad casi imponderable. Las letras de las canciones dialogan unas con otras. Es un disco que mantiene una unidad rara en comparación con otros discos de mi carrera", explica mientras los dedos de su mano derecha continúan recorriendo las cuerdas de la guitarra.

Preguntado sobre qué elementos novedosos destacaría en este nuevo trabajo, João no necesita pensar mucho su respuesta: "Hay un cantante que surge en este disco. Un cantante con la capacidad de dejar de existir para que sólo surja la música. Es algo que nunca había experimentado antes. Siempre me gustó ser muy exuberante, ocupar los espacios, alterar la pronunciación de las palabras. Éste es un disco desprovisto de artificios, casi de voz y guitarra, y en los momentos en que los músicos participan, esta sensación tampoco se pierde"."Es un disco raro. Las letras de las canciones dialogan unas con otras".

El País,Cultura.

Dia de chuva é bom pra ler!



Comecei este hoje, e estou simplesmente ADORANDO!

A autora é francesa, e foi o grande sucesso da última saison...São duas narradoras: uma concierge velha, feinha, gorda,que se finge de ignorante, mas tem imensa cultura. Começa com ela esmiuçando a obra de Karl Marx, com tremenda verve e ironia, uma delícia... A outra narradora é uma adolescente superdotada de 12 anos, que desenvolve um 'lado japonês' e planeja seu suicídio aos 16 anos, por razões muito, muito racionais.

Puxa, faz tempo que não lia nada que me absorvesse tanto! As mulheres andam mesmo demax!



Terminei este ontem o livro de contos dessa canadense. Idro adorou, Jonas Lopes adorou, e eu gostei muito. Mas há nele alguma coisa de artificial, de intelectualizado demais, mesmo nas mulheres que não o sejam, que não foi fácil de admitir... Assim mesmo, apreciei muito a leitura.

Chuvas de setembro



Dia de janelas fechadas, luzes acesas, música no ar...
Aproveitar... e produzir alguma coisa importante!

domingo, 27 de setembro de 2009

Revendo João...enquanto espero.



(parceria com seu filho, Chico Bosco)

Enquanto espero acontecer,
Enquanto espero ver no cais
Vou derramando sem querer
A febre dos meus ais

Há muito tempo amor
Que trago dor dentro do peito
Há muito tempo a cor
Da solidão tingiu-me o leito
Há tanto tempo assim
Só eu dentro de mim
A procurar por nós e apenas uma voz
Responde:
Estão agora o vazio e a saudade a sós

Há muito tempo amor
Que eu te sufoco em pensamento
Mas quando a noite cai
Traz tua imagem como um vento
Faz tanto frio aqui
Só eu dentro de mim
A procurar por nós
E apenas uma voz
Responde:
Estão agora o vazio e a saudade a sós

Navego um mar de fado azul
Angústia de um bolero
Versado em sombras meia luz
Soluço no meu canto
Uma canção enquanto espero

Enquanto espero acontecer
Enquanto espero ver no cais...

Crônica do Mário Pereira



Indiana Jones de livraria

Na amarelada página de rosto, a delicada assinatura da dona original do exemplar, e uma informação: “presente de minha amada irmã G. no Natal de 1941”. Quem terá sido aquela Maria Ângela da assinatura?

Há muito tenho por hábito vasculhar essas livrarias que vendem livros usados, conhecidas como sebos. Com a determinação de um Indiana Jones na busca da arca perdida ou da caveira de cristal, vou à luta para resgatar livros sepultados pelo tempo, mas vivos na memória. Enfurno-me em porões mofados. Arfante, escalo carcomidas escadas que conduzem a sótãos poeirentos. Encaro hordas de ácaros selvagens. Sou emboscado por baratas. Troco sopapos com traças famintas. Esgueiro-me por estreitos desfiladeiros entre prateleiras oscilantes que podem desmoronar a qualquer momento. Às vezes, volto dessas expedições arqueológicas coberto de poeira e de mãos abanando. Outras, em triunfo, abraçado a um tesouro.

Certa feita, no Rio, eu emergi de um porão com um exemplar de Tarzan, o Terrível. Não era uma edição qualquer das aventuras do nobre selvagem branco em recônditas florestas e savanas africanas na companhia da macaca Chita, de Tantor, o elefante, de Numa, o leão, e toda aquela bicharada. Era, nada mais, nada menos, uma edição de 1959 da Companhia Editora Nacional em tradução de Monteiro Lobato e com ilustrações coloridas de Manoel Victorino.

Edgar Rice Burroughs foi um maravilhoso contador de histórias. Sem nunca ter posto os pés na África, escreveu 22 aventuras do homem-macaco nela ambientadas. Quem nunca leu um de seus livros de Tarzan não sabe o que perdeu. O nosso Monteiro Lobato, cujas histórias e personagens até hoje encantam as crianças, foi um exímio tradutor. Ainda sei de cor o começo de Tarzan, o Terrível: “Silenciosa como sombra, a grande fera deslizava dentro da noite pela floresta escura, de cabeça baixa, um luar verde nos olhos, a cauda em cautelosa agitação. Era a imagem viva dum bote engatilhado”.

Na minha longa carreira de Indiana Jones de “sebos”, contabilizei outras façanhas dignas de registro. Certa feita, eu extraí de sob uma montanha de catataus jurídicos, um exemplar da edição de 1940 de E o Vento Levou, de Margareth Mitchell, livro que, durante décadas, foi o mais vendido do mundo, perdendo apenas para a Bíblia. A saga de Scarlett O`Hara durante a Guerra da Secessão dos Estados Unidos jamais perdeu seu poder de sedução. Nem no livro, nem no filme famoso com Vivian Leigh e Clark Gable. “Scarlett O`Hara não era bela; os homens, porém, só o notavam quando já subjugados pelo seu encanto”...

Na amarelada página de rosto, a delicada assinatura da dona original do exemplar, e uma informação: “presente de minha amada irmã G. no Natal de 1941”. Quem terá sido aquela Maria Ângela da assinatura? Moça ou velha, bonita ou feia, casada ou solteira? E que tipo de mulher se esconderia sob aquele floreado G? Livros usados instigam-me a imaginação não apenas com as histórias que contam, mas também com as que ocultam.

Como insaciável devorador de biografias, romances reais de vidas idas e vividas, eu festejei os resgates de A Vida de Disraeli, de André Maurois, e de Fouché, de Stefan Zweig. Houve também descobertas de livros de que nunca antes ouvira falar, mas que se revelaram tesouros que hoje ocupam lugares nobres nas minhas prateleiras. É o caso de um humilde livrinho de poucas páginas, em edição quase amadora, intitulado As Mais Belas Palavras, uma seleção de trechos dos discursos de escritores que receberam o Prêmio Nobel de Literatura, feitos durante a cerimônia de entrega. Releio-o sempre. Traz palavras que ensinam, inspiram e consolam.

Para que confiram, transcrevo de graça para vocês um trecho da fala de Pablo Neruda quando aceitou o Nobel de Literatura de 1971. “Não existe a solidão absoluta. Todos os caminhos levam ao mesmo ponto: a comunicar aos outros homens o que nós somos. E é necessário atravessar a solidão e as dificuldades, a falta de comunicação e o silêncio para chegarmos ao recinto mágico e podermos dançar desajeitados, ou cantar tristemente, mas nesta dança e nesta canção perpetuamos o mais antigo ritual da consciência: a consciência de sermos humanos e de acreditarmos num destino comum.”

Pensem nisso, enquanto eu lhes desejo uma excelente semana e saio de cena.

(Donna,DC,27/9/2009)