sábado, 3 de outubro de 2009

Crônica do Schroeder

O ANO POE

Na dia 7 de outubro, algumas cidades norte-americanas e fã-clubes do mundo todo renderão homenagens a um dos escritores mais emblemáticos e populares do globo: Edgar Allan Poe. Para promover Poe, nenhuma cidade consegue competir com Baltimore, que batizou seu time de futebol de “Ravens” (corvos) em homenagem ao autor. A cidade também tem uma tradição: todos os anos um visitante misterioso deixa meia garrafa de conhaque e três rosas vermelhas no seu túmulo. E para não deixar em branco a data dos 160 anos da morte do autor, na próxima quarta, a cidade de Baltimore encena o funeral do autor.

Nascido em Boston, em 19 de janeiro de 1809 e falecido em 7 de outubro de 1849, o poeta, romancista, crítico literário e contista escreveu clássicos góticos que ainda encantam gerações, além de praticamente inaugurar o gênero policial.

Poe foi muito mais do que um escritor. Há em suas “Histórias Extraordinárias” um teor filosófico, uma reflexão moral, que poucas obras atingem. Poe, em certos aspectos, foi um precursor de Freud, pois diagnostica os males que o racionalismo causa à razão, sobretudo ao trabalhar com princípios inflexíveis, com uma lógica que não leva em conta as esquivas intenções humanas. Não espanta que tenha influenciado Machado de Assis (em contos como “A Causa Secreta”). Jorge Luis Borges acreditava que “a literatura atual seria inconcebível sem Whitman e sem Poe”. E não seria mesmo.

E não somente sua obra era imersa em mistério, mas sua vida também. No dia 3 de outubro de 1849 o escritor foi encontrado nas ruas de Baltimore, com roupas que não eram suas, delirando. Levado para o hospital, morreu quatro dias depois. Nunca foram apuradas as causas precisas de sua morte. Um destino trágico para uma vida trágica.

Segundo filho de David Poe e Elizabeth Arnold, ambos atores, o autor ficou órfão ainda criança, e foi adotado por um casal rico, Jonh Allan e Frances Kelling Allan. Isso lhe permitiu ter uma educação de qualidade, bem como fazer uma longa viagem pela Inglaterra, Escócia e Irlanda, com os pais adotivos.

Regressou aos Estados Unidos em 1822 e continuou seus estudos sob a orientação dos melhores professores da época. Dois anos depois, entrou para a Universidade de Charlotesville, e seu temperamento inquieto o levou a ser expulso da escola.

Depois de algumas viagens além-mar, retorna a seu país em 1829, com o desejo de seguir a carreira militar. Admitido na célebre Academia de West Point, foi expulso poucos meses depois, por indisciplina.

Vence os concursos de conto e poesia promovidos pela revista “Southern Literary Messager”, e o fundador da publicação, Thomas White, convida-o a dirigir a revista. Durante dois anos, Poe ficou a frente do periódico.

Estabelecido financeiramente, Poe casa-se com Virginia Clemm, e pouco tempo depois o diretor da revista o demite (alcoolismo e indisciplina).

Passa a produzir como “free-lancer”, mas sem muito sucesso, o que o levou a afundar-se ainda mais na bebida. A morte da mulher (tuberculose) agravou o problema. Algum tempo depois, ele morre, não sem deixar em alguns poemas a inquietude do gênio belo e maldito: “Desde criança eu não fui / como os outros foram / e não vi / como os outros viram (...) Tudo o que amei, só eu amei (...)”

(Anexo, AN, 30/10/2009)

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