domingo, 4 de outubro de 2009

Histórias de Mulheres



Rosa Montero é madrilenha, tem 56 anos, e publica artigos em El País. Também é ótima ensaísta e romancista - apresenta uma perspectiva muito própria, que torna seus escritos sempre interessantes, mesmo que não se concorde com ela. Normalmente concordo, porém.

Dela comecei por ler A louca da casa, cujo título vem de uma frase de Santa Teresa: "a imaginação é a louca da casa", mas que na verdade acaba sendo transformada para " a mulher que escreve é a louca da casa"... AMEI, é demais, dei o livro de presente pra todo mundo que aniversariou por aquela época...

Depois li Paixões, alguns amores famosos, e fiquei especialmente tocada pelo de Oscar Wilde pelo seu inconsequente, imaturo, cruel Bosie. Aí não havia mais nada traduzido, li Rosa em espanhol: Te trataré como una reina, relação simbiótica e sufocante entre dois irmãos.

Rosa esteve numa FLIP, fez grande sucesso, A louca...esgotou, foram sendo traduzidos os outros. E depois de fase de policiais e mais policiais, pra descansar a cabeça, entrei em fase de ler "as muié". Comecei por Alice Munro, segui por Muriel Barbery, estou na Rosa, depois sigo por outras: Karen Blixen, Flannery O' Connor, a portuguesa Lídia Jorge, e muitas mais, todas maravilhosas, com a Virginia e a Clarice lidas e relidas, incluindo As Horas, é claro, mesmo escrito por homem, a ser relido com prazer e revendo o filme...



Zenobia Camprubí era casada com o poeta Juan Ramón Jimenez, prêmio Nobel de Literatura, autor daquele belíssimo Platero y yo. "A vida mortífera" é o título do artigo que fala de sua vida, tiranizada por um marido que não prescindia de sua presença em nenhum momento do dia, de tanto que a amava (?!)...Numa época ficaram temporada num hotel - e para ler ou escrever ele precisava ficar sozinho no quarto, mas sabendo-a perto... e sem se fazer notar. Então, ela passava os dias sentada no vaso sanitário, no banheiro anexo...

O viés escolhido pra falar de Frida Kahlo vem de frase dela mesma: " O mundo é uma cama". E não é nada erótica esta cama, apesar de sua agitada vida amorosa em certa época: é a cama da doença e da dor, por causa do acidente que sofreu e das seguidas cirurgias.

Muitas outras aparecem no livro: Agatha Christie, Mary Wollstonecraft, Simone de Beauvoir - Rosa não é muito complacente com a pessoa dela, embora seja fã da intelectual - , Alma Mahler e outras. Poucas conseguem, como George Sand, enfrentar seu tempo e viver com liberdade. Mas Rosa reconhece que o Romantismo sem dúvida influenciou ambiente a seu redor, e permitiu essa abertura. Mas houve um retrocesso em seguida, e lá foram as mulheres encarceradas de novo.

Dói em Rosa e, por consequência, dói em nós, ver que muitas apenas se submetem ao que se espera delas, e abdicam de seu talento e de sua inteligência em prol de um amor eterno que acaba ali na esquina, mas a escravidão delas é pra sempre. O caso mais revoltante, quanto a esse aspecto, é o de María Lejárraga. O mais triste (e chorei, confesso), o de Camille Claudel.

Às vezes Rosa assume ponto de vista exageradamente feminista, sem muita ponderação - mas não é comum. Procura balancear, analisar, cotejar dados. E, apesar de todos os pesares, apesar de nós mesmas,apesar de todas as mensagens bruxas recebidas, somos mulheres de sorte, por viver nos dias de hoje...

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