sábado, 5 de setembro de 2009

Educação para o mercado,de Fábio Brüggemann


(Norman Rockwell)



As políticas públicas para a educação no Brasil são as piores do mundo. Depois da sacanagem que foi o golpe militar, financiado pelo governo norte-americano, baseado numa política expansionista, neocolonial e, por isso, usurpadora, tudo piorou. No pacote ditatorial veio uma reforma educacional que detonou com as políticas públicas de educação, que, no Brasil dos anos de 1950 ainda eram decentes. A escola pública sempre foi melhor, porque a elite acreditava nela. Só ia para a escola pública o filhinho de papai que se dava mal nas provas, e recebia, como castigo, estudar na privada.

O golpe militar também implantou uma ideologia tacanha, tirando dos cursos básicos o ensino da filosofia e de outras cadeiras das humanas, privilegiando o tecnicismo com vistas exclusivamente ao mercado de trabalho. A lógica capitalista não precisa de gente que pensa, apenas que trabalhe.

Sendo assim, a reforma do ensino implantou no currículo a educação religiosa (que, no caso, se baseava no ensino dos fundamentos apenas da Igreja Católica, aliada ao golpe), o ensino de moral e cívica (sem nenhuma proposição dialética) e a iniciação para o trabalho. Adeus pensar, viva a lavagem cerebral, esta era a ideia. O pior é que, mesmo com o fim da ditadura, e vivendo hoje num país que se diz democrático, o ensino ainda é excludente, e o que é pior, reacionário, autoritário e formador apenas de mão de obra, não de pensadores e críticos.

O costarriqueno Vernor Muñoz Villalobos, relator especial da ONU pelo direito à educação, disse textualmente que a educação está em crise, e faz uma avaliação estarrecedora, ainda que óbvia, se prestássemos mais atenção nos detalhes da história. Ele diz: “A educação como sistema surgiu no mesmo momento em que apareceram o sistema penitenciário, as fábricas e os hospitais psiquiátricos. Isso quer dizer que as escolas foram pensadas como uma forma para disciplinar a mão de obra para o mercado”.

O pior não é constatar isso, pior mesmo é perceber que as empresas, os políticos, os professores, e, por que não, os próprios estudantes, estão com a cabeça tão bem feita desde o golpe militar, que acham que deve ser assim mesmo. Tanto que as escolas privadas já chamam seus alunos de clientes e todos acham normal. Educação não pode ser tratada como negócio, mas, infelizmente, cada vez mais é pensada desse modo.

(Variedades,DC, 5/9/2009)

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