
(a foto é do DC)
LITERATURA
Uma cruel voz narrativa
O Filho Eterno recebe mais um prêmio nacional para romance
Depois de arrebanhar quase todos os prêmios de 2008, o romance O Filho Eterno, de Cristovão Tezza, provou ontem que ainda pode provocar barulho. Ontem, faturou também o Prêmio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura, concedido a cada dois anos, como parte da programação da Jornada Internacional de Literatura de Passo Fundo.
O anúncio foi feito pela manhã, em uma solenidade com a presença de representantes da Jornada, do patrocinador do Prêmio e da prefeitura de Passo Fundo. O prêmio Passo Fundo Zaffari & Bourbon de Literatura é um dos que mais pagam a um autor no Brasil: R$ 100 mil. De acordo com o que informou o professor Luiz Augusto Fischer – que, no anúncio do prêmio representava a presidente do júri, Regina Zilberman – O Filho Eterno foi escolhido o melhor entre 176 romances inscritos. O grupo de cinco jurados reduziu o número primeiro para 48 semifinalistas e, mais tarde, para 10 finalistas. No dia 5 de agosto, os jurados escolheram O Filho Eterno como vencedor por unanimidade – contra concorrentes como A Viagem do Elefante, de José Saramago; Acenos e Afagos, de João Gilberto Noll e O Livro das Impossibilidades, de Luiz Ruffato. Logo após o anúncio, a coordenadora da Jornada, Tânia Rosing, ligou para comunicar a premiação ao escritor catarinense, nascido em Lajes e residente em Curitiba, mas ele havia saído. Tezza já fora finalista deste prêmio em 2005, com O Fotógrafo. O prêmio será entregue na solenidade de abertura da Jornada, dia 26 de outubro.
É o sexto prêmio de expressão nacional recebido por O Filho Eterno. O romance é construído em episódios que retratam, em uma prosa seca, com uma voz narrativa cruel que paradoxalmente não tem medo de expor a covardia do protagonista, o lento aprendizado de um pai. Escritor jovem, em início de carreira, um homem enfrenta os sentimentos desesperados de rejeição e revolta quando seu Filho nasce com Síndrome de Down. Tezza propositalmente borra os limites entre memória e ficção – o ponto de partida é assumidamente autobiográfico, o nome do Filho e o dos romances que o protagonista publica são os mesmos da vida real.
Com este prêmio, o senhor ganha quase todos os nacionais possíveis para um romance. Esperava tal acolhida?
Cristovão Tezza – Esse livro ultrapassou as minhas expectativas. Para ser sincero, não achava que ia ganhar o da Jornada por ter ganho outros. Fiquei feliz, porque a Jornada é um empreendimento literário bem-sucedido, consegue envolver uma cidade inteira. Também é um prêmio significativo em termos financeiros, e fiquei contente por considerar os jurados um time de alto gabarito.
O Filho Eterno é seu 13º romance. Ele despertou o interesse para seus outros livros?
Tezza – Depois de O Filho Eterno, os livros anteriores passaram a vender mais – nada astronômico, mas vendem mais. Esse livro é um ponto de maturidade. Separo minha carreira em alguns momentos cruciais: o romance Trapo, de 1988, que me lançou nacionalmente; a ótima recepção em 1998 para Breve Espaço entre Cor e Sombra; 2004, quando lancei O Fotógrafo, finalista de vários prêmios e que, como linguagem, me preparou para O Filho Eterno.
O senhor pensa na recepção de seu próximo livro, uma vez que agora ele será “o novo livro do autor de O Filho Eterno”?
Tezza – Eu não pensava nisso antes. Esse livro que escrevo agora era um projeto antigo, anterior a O Filho Eterno. Mas é fato que as pessoas estão falando do livro, eu mesmo estive presente na imprensa, então sei que os olhos estarão voltados para o próximo romance.
CARLOS ANDRÉ MOREIRA,no Variedades do DC de hoje.
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