sábado, 5 de setembro de 2009

Viva Bolaño!,de Carlos Schroeder



Já decidi o destino de minhas férias de final de ano. Vou passar uns dez dias no Chile, na companhia da esposa e de mais um casal de amigos. Quero aproveitar para visitar alguns lugares que foram marcantes na vida do escritor Roberto Bolaño, um dos marcos da literatura chilena.

As obras de Bolaño são um grito lancinante, um golpe no realismo torpe que vive escondido atrás de significados e palavras fáceis, nos simulacros do cotidiano.

A vida dele pode ser vislumbrada num trecho de um poema seu: “Não importa até onde te leva o vento/(Sim. Mas gostaria de ver Sêneca neste lugar)/A sabedoria consiste em manter os olhos abertos/durante a queda (Blocos sônicos de desespero?)”.

Nascido em Santiago no ano de 1953, Bolaño mudou com a família para o México em 1966, onde passava horas sobre livros nas bibliotecas públicas. Voltou ao Chile em 1973 e acabou preso pela ditadura de Pinochet. Solto, outra vez foi ao México.

Surge nessa época (1975) o movimento Infrarealista, que pretendia quebrar parâmetros literários e romper com as gerações anteriores. Em 1977, muda-se para a Espanha, mas apenas na metade da década de 90 consegue começar a publicar. Entretanto, em poucos anos, coloca nas ruas romances, novelas, coletâneas de contos e poemas. Já adulto, emigrou para a Espanha e trabalhou como vendedor e vigilante noturno antes de se dedicar integralmente à literatura.

O principal romance dele, lançado em 1999 em língua espanhola e vertido em 2006 para o português, “Os Detetives Selvagens”, ganhou o prêmio Rómulo Gallegos, o mais importante da língua espanhola. Foi saudado como a obra que finalmente tirou a literatura latino-americana do beco sem saída em que o boom do realismo mágico a metera, abrindo caminho para uma nova geração de escritores.

O romance apresenta Arturo Belano e Ulisses Lima, dois poetas numa busca detetivesca atrás dos rastros de uma misteriosa poeta vanguardista que desapareceu num deserto, no norte do México. Na primeira parte, escrita em forma de diário, acompanhamos as andanças dos dois e seu grupo de poetas.

A segunda parte é composta por dezenas de “depoimentos” que reconstituem a trajetória de Arturo Belano e Ulises Lima. A terceira retoma o diário, relata a busca pela poeta Cesárea Tinajero e explica, de certa forma, as duas décadas de esbórnia dos protagonistas.

No Brasil, ainda podemos encontrar “Noturno do Chile”, livro lançado em 2000, na Espanha, e em 2004, no Brasil, e que “é o que há de melhor e de mais precioso: um romance contemporâneo destinado um lugar permanente na literatura mundial” para Susan Sontag. Há também “A Pista de Gelo”, romance de estreia do autor, publicado em 1993, que aportou em 2007 por aqui. Também foram lançados aqui “Putas Assassinas” e “Amuleto”.

Bolaño morreu em 2003, em Barcelona, esperando um transplante de fígado e, segundo o escritor espanhol Enrique Vila-Matas, foi “um escritor resistente, alguém que rompe com a literatura latino-americana”. Bolaño foi um verdadeiro salvador da originalidade e da radicalidade. Espero encontrar essa combinação nas ruas chilenas.

(Anexo,AN,5/9/2009)

2 comentários:

  1. Não concordo que o mais importante prêmio da língua espanhola seja o Rómulo Gallegos... Sempre foi o Cervantes e acredito que isso não mudou.

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  2. Acho,meu querido (ou minha querida...)que isso vai depender da perspectiva.
    Em termos de prestígio e tradição,dou razão pra ti. Mas em termos de repercussão pela América Latina,concordo com o Carlos.
    bj

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