sábado, 26 de setembro de 2009

Crônica do Schroeder

Imagino o tamanho do desapontamento, Carlos!
E concordo em gênero, número e grau!



BIENAL DO VAZIO

O Rio de Janeiro continua lindo. E a Bienal do Livro do Rio (a de São Paulo não é diferente) continua vazia; De propósitos, de consistência, de espírito.

Livros são extensões da imaginação humana, pressuponho que feiras de livros devem aproximar os visitantes dessa imaginação, em vez de amontoar um monte de estandes bonitos em galpões e encher esses espaços com crianças que nem sabem por que estão ali.

Para se ter uma ideia do disparate da Bienal, o auditório da Feira do Livro de Jaraguá do Sul 2009 foi maior que o da Bienal do Rio 2009, isso que o evento carioca recebe, no mínimo, dez vezes mais visitantes. Isso acontece quando uma empresa de eventos realiza uma feira para consumidores, não para leitores.

As feiras do livro de Bogotá e Buenos Aires, por exemplo, mexem com a cidade inteira, e têm uma programação focada no leitor, contemplando todos os gêneros (e não só os best-sellers). Está na hora de algumas pessoas pararem de enxergar o livro apenas como um produto, e ver a grande transformação social e cultural que ele propicia.

Como escritor, vejo que o mundo precisa ser mais lírico. As palavras devem ter outros significados, e como editor de livros, percebo que cada vez mais o livro e a leitura devem ser usados como instrumento primordial da educação e transmissão do conhecimento. E, por fim, como gestor cultural, acredito que eventos não precisam ser realizados apenas para cumprir tabela, como vejo país adentro.

Cultura é coisa séria! Já disse o Camus, “sem a cultura, e a liberdade relativa que ela pressupõe, a sociedade, por mais perfeita que seja, não passa de uma selva. É por isso que toda a criação autêntica é um dom para o futuro”. Afinal, “a cultura, sob todas as formas de arte, de amor e de pensamento, através dos séculos, capacitou o homem a ser menos escravizado”, diz o ensaísta André Malraux.

Cadê a Bienal do Rio? Fui até lá para ver o jeitinho carioca de lidar com livros, e o que vi foi fleuma, melancolia. Cadê a vitalidade que vejo na Lapa e na Cinelândia? O descolamento e a alegria da Zona Sul? A garra da Zona Norte? O charme da Barra da Tijuca? Não vi nada disso lá nos pavilhões da Bienal.

Não tinha cara do Rio, nem do Brasil. E para mim, o Rio é o Estado mais brasileiro de todos (um amigo meu diz que o Brasil começa lá, e vai até o Norte/Nordeste, que de São Paulo para baixo todos querem ser europeus). Quem conhece, sabe.

Lá todas as classes, as cores e ritmos se misturam, sem culpa, sem preconceito, com alegria, tudo muito Gilberto Freyre, muito Darcy Ribeiro.

Olha, estão fazendo eventos para inglês ver em pleno Rio. Peço ajuda ao Darcy Ribeiro: “Ultimamente, a coisa se tornou mais complexa porque as instituições tradicionais estão perdendo todo o seu poder de controle e de doutrina. A escola não ensina, a igreja não catequiza, os partidos não politizam. O que opera é um monstruoso sistema de comunicação de massa, impondo padrões de consumo inatingíveis e desejos inalcançáveis, aprofundando mais a marginalidade dessas populações”.

A Bienal do Livro foi uma decepção, mas o Rio de Janeiro continua lindo...

(Anexo,AN,26/9/2009)

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